hoje, sensibilizado pelo clima interiorano das montanhas, fui pego de surpresa por uma música que há muito conhecia. porém, eu nunca havia sido colocado de tal maneira no âmago de sua significância.
uma cantora popular, um compositor popular, no entanto, uma sensibilidade tamanha. quando me percebi, estava com os olhos úmidos acompanhado da sensação de compreender a beleza que há no "existir" e no estar "atento e sensível" - através dos óculos maravilhosos da arte, ou seja, senti que ao encararmos o comum como singular, único, e o cotidiano com beleza e poesia, as palavras se tornam apenas escadas que podemos dispensar e continuar subindo... como grandes poetas o fazem - e o são também os que percebem a poesia no mundo, seja na palavra, seja numa paisagem, seja num gesto ou num rosto: poetas."estive no fundo de cada vontade encoberta". não compreendo como pessoas podem viver sem percebê-lo.
este, que escreveu tal poesia musicada, se chama caetano, e aqui está o meu motivo de hoje:
"Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino,
eu pus os meus pés no riacho.
E acho que nunca os tirei.
O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei.
Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou.
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.
Eu vi muitos cabelos brancos na fonte do artista
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.
Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
e a coisa mais certa de todas as coisas
não vale um caminho sob o sol.
E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha."
marcus de barros. maio, 2010