Ao escutar o disco Paêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho, fui acometido por uma sensação que não me é estranha, posto que é por mim já conhecida há um tempo, mas que, no entanto, se faz rara e carrega um viés de fantástica e, ademais, um tanto psicodélica - naquele sentido peculiar da atmosfera quase-líquida, das matérias-em-derretendo, do pensamento abrangente e uno, da consciência universal.
Lembrei e amei muito os amigos que participaram, os pastos invernais do interior do estado ou as areias minimamente sedimentadas das praias do litoral, a observar um pôr-do-sol como um ancestral que vive da natureza, na natureza e pela natureza - pois assim sentem-se os sensíveis - me vi num fluxo de pensamento peculiar aos amigos mais próximos (provavelmente os poucos a compreender minha brevíssima tentativa de tradução daqueles momentos).
Um nascer do sol com a lua ainda a se aproximar do horizonte oposto, banhado por uma chuva macia e acolhedora. Roupa soa estranho, cidade soa grosseiro.
Paêbirú me foi nostálgico de uma maneira que não conhecia a nostalgia: pois nunca tinha escutado este álbum antes para caracterizar de fato uma "nostalgia". Mas me propôs e me remeteu a todos estes momentos que coloquei e a tantos mais, intraduzíveis, indizíveis, por mais que me esforce para alcançálos através da palavra.
Ademais, a vontade que me arremete é a vontade de estar na chuva gargalhando - e existindo como nunca.
Vejo um brilho na música antes nunca alcançado por nada, senão pela própria música e seus sensíveis.
Download no link que segue: Lula Côrtes & Zé Ramalho - Paêbirú (1975).
informação sobre o álbum: http://brnuggets.blogspot.com/2006/10/lula-crtes-z-ramalho-pabir-1975.html
marcus.