"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

FRIDAY, NOVEMBER 26, 2010

Connection

Every moment of our lives
Is a necessary moment
And all that happens around us
Interacting with what happens inside us

Nothing is for granted
There is one continuous flow
To everything that happens

Like waking up from heavy sleep,
You look around and ask,
Where are we?

The pathways of our lives
Have led us to this very hour
And all that it encounters

Like scenes of every day

Direction is unseen
But binds within our eyes
Subconsciously speaking



** acabo de ver a ultima postagem de gilsinho em seu blog.
e ler isso dà a sensaçao que ele tava tranquilo...

marcus.

movimento

Acabo de saber da morte-escolhida de um amigo.
Ponto.
Mais clara e duramente, do recente suicidio do amigo Gilsinho.
Reticências...
Primeiro, a tentavita de compreender, a partir de quaisquer que sejam as referências ou julgamentos errôneos ou não que atribuamos a ele, é uma tentativa de compreensão inutil e vã.
Segundo, não hà forma delicada nem correta de comunicar o episòdio.
Entre os soluços de um choro desesperado e repentino e a reflexão mais vasta que posso conceber, pensei e primeiramente não quis comentar nem escrever nada sobre. Calar. Silenciar. Mas em seguida senti que sua imagem e legado são de tal maneira fortes em mim que me é impossivel não exprimir minha surpresa plena de tristeza e questionamentos. E aliàs, a vida, mesmo fora de tal episòdio, não merece silenciamentos.
Palavras, escrita, texto, me parecem ridiculamente ìnfimos agora. Paradoxalmente, parece não haver nada a ser dito.
Mas as làgrimas e o choro silenciosos não bastam...
È preciso refletir acerca disso, talvez infinitamente. E escrever-lhes, amigos, talvez seja apenas um ato um tanto desesperado de alguém que tà longe sem o conforto do abraço de um corpo amigo, mas sinto uma causa maior sobre tudo isso.
Sei que quem o conheceu bem pode atribuir sentidos vàrios a tal ato "disparatado". Pois o suicidio nunca foi uma solução. Aliàs, não consigo atribuir nem caràter de covardia nem de coragem... fuga? busca? sobra de quê? falta de quê? ... talvez confusão e solidão.
Não sei. Imagino que nem o pròprio Gilsinho saberia de fato responder, mesmo que o quisesse.
Sei que apenas não representa uma solução.
Sem nada a dizer diretamente, queria apenas convidar-nos todos à reflexão - sempre continuada - acerca de nossos caminhos, nossos movimentos, nossas escolhas, nossos "paradeiros". Eu tenho escolhido - e cada vez mais - o movimento. No movimento vejo o motor da vida. Denominamos de tempo a sequência de movimentos que vão modificando nossas personalidades, nosso dia-a-dia, nossos hàbitos, nosso mundo, nossa memòria, nossos amigos. E, por mais que em Gilsinho como corpo não exista mais movimento, em mim (em nòs) hà seu movimento, seu legado, seus questionamentos, sua "busca pela verdade", sua mùsica, seus dedos finos... Somos todos formados um pouco pelos outros. Tenho em mim pedaços, idéias, pensamentos, sorrisos e choros dos que me rodeiam. Me vejo em vàrios momentos dizer algo que sei que veio de um ou de outro amigo, e que agora està em mim, que é "eu". Que movimentemos e que mantenhamos acesa a chama dos que nos importam dentro de nòs, que percebamos o quanto o outro importa ao ponto de nunca esquecermos de ir ao seu encontro, de fazer uma visita de 5 minutos que seja, ou simplesmente mandar algumas palavras, doces ou amargas, mas que comunique algo, onde haja uma troca. 
Sinto falta do ultimo abraço que poderia ter dado no meu amigo querido que foi se distanciando aos poucos até desaparecer, como agora. Sinto falta dos abraços amigos que poderia ter agora e não tenho. Sinto vontade de movimento e isso me faz continuar, não sei se sempre firme, mas sim forte em direçao ao mundo e principalmente aos que queremos mais bem.
Apenas pra deixar um tanto mais claro, a intenção de escrever o que escrevo agora é de soltar um suspiro de importância às amizades valiosas que temos e que o mesmo movimento que traz leva, como uma onda nesse oceano que nos separa.
Fico guardado no proximo abraço que possamos dar, pleno de calor e de vida, pois é o que parece mais interessar hoje e sempre.
Gilsinho, sempre o amei e sempre o amarei.
O amor é uma palavrinha que o uso carregou de pre-conceitos e de imagens desnecessàrias que até nos impede de utilizà-la comumente, mas que comporta em si o grande segredo dos nossos movimentos, mesmo que não o digamos. Sinto.
Com pesar, triste, porém cheio de vida,
Um abraço forte, morno e confortante,

Marquinho.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

eucronópios.blogspot.com

migos,
quero deixar registrado que criei e que estou escrevendo também nesse espaço: www.eucronopios.blogspot.com ; minha intenção é de escrever mais, assim como de fazer textos mais autorais, de organizar um pouco mais a minha desorganização literária - ainda ínfima, mas com o intuito de desenvolver-se.
convido-os à leitura, à reflexão e à criação e ao ócio também, quando necessário.
vale!

marcus de barros.

ps.: queria deixar uma atenção particular dedicada a esta postagem (no link): http://eucronopios.blogspot.com/2010/05/descoberta-da-poesia.html

sexta-feira, 21 de maio de 2010

força estranha

hoje, sensibilizado pelo clima interiorano das montanhas, fui pego de surpresa por uma música que há muito conhecia. porém, eu nunca havia sido colocado de tal maneira no âmago de sua significância.
uma cantora popular, um compositor popular, no entanto, uma sensibilidade tamanha. quando me percebi, estava com os olhos úmidos acompanhado da sensação de compreender a beleza que há no "existir" e no estar "atento e sensível" - através dos óculos maravilhosos da arte, ou seja, senti que ao encararmos o comum como singular, único, e o cotidiano com beleza e poesia, as palavras se tornam apenas escadas que podemos dispensar e continuar subindo... como grandes poetas o fazem - e o são também os que percebem a poesia no mundo, seja na palavra, seja numa paisagem, seja num gesto ou num rosto: poetas."estive no fundo de cada vontade encoberta". não compreendo como pessoas podem viver sem percebê-lo.
este, que escreveu tal poesia musicada, se chama caetano, e aqui está o meu motivo de hoje:




"Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino,
eu pus os meus pés no riacho.
E acho que nunca os tirei.
O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei.
Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou.
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.
Eu vi muitos cabelos brancos na fonte do artista
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.
Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
e a coisa mais certa de todas as coisas
não vale um caminho sob o sol.
E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha."




marcus de barros. maio, 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

"O indivíduo quer ser alguém" (Paulo Gaudêncio, Tom Zé)

Ninguém aguenta ser massa, o indivíduo quer ser alguém (Paulo Gaudêncio sobre a cidade de São Paulo)
Tom Zé no quadro arquivo do Radiola na TV Cultura - música "A Gravata".
(Não descobri a data desta gravação, mas imagino que esteja entre 68 e 71, 72...)




Quero compartilhar também o texto escrito na contra-capa do primeiro LP do Tom Zé, de 1968 (que acabo de descobrir e ler).


"Somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade. O sorriso deve ser muito velho, apenas ganhou novas atribuições. Hoje, industrializado, procurado, fotografado, caro (às vezes), o sorriso vende. Vende creme dental, passagens, analgésicos, fraldas, etc. E como a realidade sempre se confundiu com os gestos, a televisão prova diariamente, que ninguém mais pode ser infeliz. Entretanto, quando os sorrisos descuidam, os noticiários mostram muita miséria. Enfim, somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.(As vezes por outras coisas também). É que o cordeiro, de Deus convive com os pecados do mundo. E até já ganhou uma condecoração. Resta o catecismo, e nós todos perdidos. Os inocentes ainda não descobriram que se conseguiu apaziguar Cristo com os privilégios. (Naturalmente Cristo não foi consultado). Adormecemos em berço esplêndido e acordamos cremedentalizados, tergalizados, yêyêlizados, sambatizados e missificados pela nossa própria máquina deteriorada de pensar. "-Você é compositor de música "jovem" ou de música "Brasileira"?" A alternativa é falsa para quem não aceita a juventude contraposta à brasilidade.. (Não interessa a conotação que emprestam à primeira palavra). Eu sou a fúria quatrocentona de uma decadência perfumada com boas maneiras e não quero amarrar minha obra num passado de laço de fita com boemias seresteiras. Pois é que quando eu abri os olhos e vi, tive muito medo: pensei que todos iriam corar de vergonha, numa danação dilacerante. Qual nada. A hipocrisia (é com z?) já havia atingido a indiferença divina da anestesia... E assistindo a tudo da sacada dos palacetes, o espelho mentiroso de mil olhos de múmias embalsamadas, que procurava retratar-me como um delinquente. Aqui, nesta sobremesa de preto pastel recheado com versos musicados e venenosos, eu lhes devolvo a imagem. Providenciem escudos, bandeiras, tranquilizantes, antiácidos, antifiséticos e reguladores intestinais. Amém.
TOM ZÉ
P.S.: Nobili, Bernardo, Corisco, João Araújo, Shapiro, Satoru, Gauss, Os Versáteis, Os Brazões, Guilherme Araújo, O Quartetão, Sandino e Cozzela, (todos de avental) fizeram este pastel comigo.
A sociedade vai ter uma dor de barriga moral
O mesmo"     (Tom Zé - 1968, contracapa do LP)






marcus de barros