"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

sábado, 27 de junho de 2009

kubrick num cinema autista

(Stanley Kubrick - Auto-retrato na década de 50)


informações colhidas na Internet - fontes não oficiais:
  • Segundo R. Lee Ermey, Kubrick repugnava a falta de profissionalismo dos atores e suas personalidades mimadas. Ainda segundo ele, um dos motivos para seus múltiplos takes repetidos era o fato de que "os atores memorizavam mas não compreendiam as falas. Somente após 40 takes os atores finalmente entravam no papel e paravam de simplesmente repetir as palavras para finalmente atuar naturalmente".
  • Outra teoria para seus takes repetidos era a de que Kubrick poderia assim manipular seus atores ao limite desejável. Apesar de parecer um ato aparentemente frio e desumano, os resultados com a atriz Shelley Duvall em O Iluminado parecem ter funcionado. Após mais de 100 takes (um recorde) os gritos de desespero da atriz na cena "Here is Johnny" pareciam reais. Talvez porque fossem reais.
  • Pelas suas características foi diagnosticado como portador de autismo de alto desempenho.

sábado, 13 de junho de 2009

Saramago e o corpo do homem.

Corpo de Deus

Junho 12, 2009 by José Saramago

Também lhe chamam Corpus Christi e é “dia de preceito” para os católicos, além de feriado oficial. Todos os fiéis deverão ir à missa (ser “dia de preceito” a tal obriga) para dar testemunho da presença real e substancial de Cristo na hóstia. E nada de pôr-se com dúvidas sobre a divina presença na pastilha ázima como sucedeu a um sacerdote chamado Pedro de Praga, no século XIII, não seja que se repita o tremebundo milagre de ver a hóstia transformar-se em carne e sangue, não simbólicos, mas autênticos, e ter de levar outra vez a sanguinolenta prova em solene procissão para a catedral de Oviedo, como complacentemente no-lo explica Wikipedia, fonte a que neste difícil transe tive de recorrer. O mundo era interessantíssimo naquele tempo. Hoje, o milagre de recuperar a economia e a banca passa por imprimir milhões de dólares a uma velocidade de vertigem e pô-los a circular, preenchendo assim um vazio com outro vazio, ou, por palavras menos arriscadas, substituindo a ausência de valor por um valor meramente suposto que só durará o que durar o consenso que o admitiu.

Mas não era da crise que eu queria escrever. Em todo o caso, como já se vai ver, a menção ao Corpo de Deus não foi gratuita nem simples pretexto para fáceis heresias, como costumam ser as minhas, segundo canónicas e abalizadas opiniões. Há alguns dias, no 28 de Maio para ser mais exacto, um boliviano de 33 anos, de nome Fraans Rilles, emigrante “sem papéis” e sem contrato, que trabalhava numa padaria em Gandia (Espanha), foi vítima de grave acidente, uma máquina de amassar cortou-lhe o braço esquerdo. É certo que os patrões tiveram a caridade de o levar ao hospital, mas deixaram-no a 200 metros da porta com uma recomendação: “Se te perguntam, não digas nada da empresa”. Como seria de esperar, os médicos pediram o braço para tentar reimplantá-lo, mas tiveram de desistir da ideia perante o mau estado em que se encontrava. Tinham-no atirado ao lixo.

Afinal, eu não queria escrever sobre o Corpo de Deus. Como é meu costume, uma coisa levou a outra, mas era do Corpo do Homem que eu pretendia realmente falar, esse corpo que, desde a primeira manhã dos tempos, vem sendo maltratado, torturado, despedaçado, humilhado e ofendido na sua mais elementar dignidade física, um corpo a quem agora foi arrancado um braço e a quem foi ordenado que se calasse para não prejudicar a empresa. Espero que os fiéis que hoje acorreram à missa e leram a notícia no jornal tenham tido um pensamento para a carne sofridora e o sangue derramado deste homem. Não peço que o ponham num altar. Só peço que pensem nele e em tantos como ele. Diz-se que todos somos filhos de Deus. Não é verdade, mas com este falsidade se consolam muitos. Deus não valeu a Fraans Rilles, vítima da máquina de amassar pão e da crueldade da gente sem escrúpulos que explorava a sua força de trabalho. Assim vai o mundo e não haverá outro.


José Saamago, em seu Caderno.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Dedico ao amigo Rodrigo de Oliveira

Dedico as propostas, colocações, devaneios e discussões feitas neste espaço ao amigo Rodrigo de Oliveira (vulgo Spock).
Também lhe são dedicadas as imagens, visuais ou mentais, que surgem neste espaço.
Ademais, dedico todas as imagens, tanto deste quanto de outros espaços, reais ou oníricos, factíveis ou de devaneio.
Dedico toda a sensibilidade que percebemos no mundo exterior e interior a cada um dos sensíveis.
É um prazer imenso coexistir no universo percebendo e trocando existência com tamanho ser humano.
Somos feitos de pedaços, pedaços do mundo, pedaços de coisas, pedaços de momentos, pedaços de amigos, pedaços de livros - como diz o amigo e poeta Raboni; e os pedaços que eu sou tem pedaços do que este ser De Oliveira é, um imenso prazer esta interação de pedaços.



marcus.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Prazer é a Ponta do Fio do Desejo

O prazer é a ponta do fio do desejo.

1. O desejo é a potência do homem.
Sem desejo não há "vida".

2. Só há o prazer através do desejo.
O desejo é anterior ao prazer.
O desejo é a condição de existência da busca; o desejo é o que dá ímpeto e movimento à busca.
O prazer é o fim da busca; o prazer é a meta, é a recompensa por ter atingido o fim, só existe em um instante, não pode ser perpetuado ou continuado.
No entanto, no instante do prazer, o desejo se vai. Morre temporariamente. O desejado já foi atingido, o fim já foi atingido. A busca pára por um momento.
Há um hiato então.
..
E volta novamente o desejo, e então a busca, com o desejo que ressurge do instinto humano, animal, guardado em nosso ser.
Até que o ciclo se refaz.
Tem-se vida.
Sem desejo, não há vida. Sem desejo, sequer há busca, sequer há movimento, ou muito menos prazer.


marcus.
** escrito feito, inicialmente em tom jocoso com o amigo Diego Lins (vulgo Cabeça), ao discutir-se sobre o desejo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

J. L. Borges, o portenho

"Uma biblioteca é um tipo de caverna mágica cheia de mortos. Esses mortos podem ser ressuscitados, podem voltar à vida, quando se abrem suas páginas. O gosto da maçã não está nem na própria maçã - a maçã não pode ter gosto por si mesma - nem na boca de quem come. É preciso um contato entre elas. O mesmo acontece com um livro ou com uma coleção deles, uma biblioteca."

Jorge Luis Borges, em suas conferências sobre "O Ofício do Verso".

Algo breve sobre o conto - gênero literário
















Julio Contázar comparava o conto com uma fotografia, uma foto instantânea que capta um momento especial da vida.
"O sonho é poesia involuntária."

segunda-feira, 1 de junho de 2009

tempo: implacável.
constituído de matéria de escolhas.

cada instante, uma escolha.
cada não-escolha, outra escolha.
cada certeza, um tempo.

cada baque, o tempo.
cada tempo, vida.
cada vida, só tempo.

implacável.
incompreensível.
incomunicável.

tempo: infinito
e tantos mais 'in'(s).

(mais um não-poema:
sem métrica, sem forma, sem ritmo, sem poesia;
inarmónico, amelódico,
e aliás, sem tempo)