"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O caráter é elíptico (A Ironia é mulher).

Minha afável afã.
Que insulta a forma como me tomas!
Assim digo-te que não me demoro.
Que estou eu já de partida.

Ando me furtando de sofismas.
Tua insistência, minha agonia...
Ante tua disparidade, o meu “aguardo”,
que hoje me põe de soslaio a tua vaidade.

Estive além do silêncio trepidante.
Na observação do teu desejo vacilante,
permiti a minha escuta vasculhar,
quando da tua insatisfação me vi suporte.

E hoje eis como te vejo não-gigante,
a jogar toda saudade nos armários.
A jogar-se como objeto a todo instante,
no agourar-se em paradigmas rechaçados.

Só estou de partida.
Sendo a vontade o aval.
Sendo à vontade, ou à briga.
Sinto que uma estrada me abriga.

Talvez para ser escudo, um embaraço de laços.
Para a batalha de revolver-se de si,
dos sismos, dos outros e do mundo,
talvez fazer dos nervos aço.

Há uma vida que me anima,
já não sou mais o adorno.
E descobri com as raparigas da esquina,
que para toda falta haverá um gozo.

Rodrigo O. De Morais

4 comentários:

Gilson disse...

Impressionadíssimo!!!! Meu amigo, que larga escala você percorreu, e têm percorrido. Meu muito grande amigo, compartilho contigo todos meus momentos bons e ruins. Tenha calma com esse amigo aqui do outro lado, ele ti lê e ti acompanha, fica muito feliz de ver um post novo. De vez em ele tem tanto, que é dificil dar conta de tudo. Por isso peço pasciencia. São 3:32, eu acordo as 6:15. E a suadade muito mora comigo, quero ti ver, dar um abraço, ouvir sua voz. Pra ti um sorriso!

Anônimo disse...

Impressionado, como diz Gilsinho, me sinto também. O "íssimo" cabe muito bem como sufixo.
Você, amigo, é um dos grandes, sem dúvida.
Com as letras, com as pessoas, com os "entenderes", saberes, viveres; contigo mesmo. És grande.
Como diria Cortázar, és um cronópio.
Tua escrita me deixa além de admirado, internalizado.
Como falaste sobre o ultimo sonho que tiveste e que me envolvia, "que não querias interpretá-lo, mas já o fazia", digo-te o mesmo sobre esse poema. Verdadeiro, real, diagnóstico do que enxergaste, que eu bem sei.
Um abraço amigo, um abraço de irmão.
Espero vê-lo em breve.

Gilson disse...

Mein Gott! Muito bom mesmo.

Rodrigo de Morais disse...

Sustentarei até o último quinhão de ego, a lembrança de vocês em mim. Tudo que são, tudo que fazem.
Eu acredito que juntos a gente constrói algum ''é-difícil'' imaginário, ao longo desses anos, onde todos se presentificam um no outro, numa construção em pedaços...

Gilson. Muita saudade de você, saudoso amigo. Posso fechar os olhos e construir você de frente para mim numa determinada praça. tenho novidades pra compartilhar.
e imagino que tu também, sempre.
espero sua aparição para fazer sobrepor a imagem em latencia no meu ser, por uma nova.

Marcus, despertei daquele sonho muito espantado com a configuração em lantencia que se tinha moldado, no mais profundo de meu âmago, sobre você. Sabemos que o muito que podemos sobre nós ainda é pouco. Depois de ter superado algo de vergonha, me vi ainda mais viril então, e depois da tamanhã clareza que me permiti...

Avante!