"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

movimento

Acabo de saber da morte-escolhida de um amigo.
Ponto.
Mais clara e duramente, do recente suicidio do amigo Gilsinho.
Reticências...
Primeiro, a tentavita de compreender, a partir de quaisquer que sejam as referências ou julgamentos errôneos ou não que atribuamos a ele, é uma tentativa de compreensão inutil e vã.
Segundo, não hà forma delicada nem correta de comunicar o episòdio.
Entre os soluços de um choro desesperado e repentino e a reflexão mais vasta que posso conceber, pensei e primeiramente não quis comentar nem escrever nada sobre. Calar. Silenciar. Mas em seguida senti que sua imagem e legado são de tal maneira fortes em mim que me é impossivel não exprimir minha surpresa plena de tristeza e questionamentos. E aliàs, a vida, mesmo fora de tal episòdio, não merece silenciamentos.
Palavras, escrita, texto, me parecem ridiculamente ìnfimos agora. Paradoxalmente, parece não haver nada a ser dito.
Mas as làgrimas e o choro silenciosos não bastam...
È preciso refletir acerca disso, talvez infinitamente. E escrever-lhes, amigos, talvez seja apenas um ato um tanto desesperado de alguém que tà longe sem o conforto do abraço de um corpo amigo, mas sinto uma causa maior sobre tudo isso.
Sei que quem o conheceu bem pode atribuir sentidos vàrios a tal ato "disparatado". Pois o suicidio nunca foi uma solução. Aliàs, não consigo atribuir nem caràter de covardia nem de coragem... fuga? busca? sobra de quê? falta de quê? ... talvez confusão e solidão.
Não sei. Imagino que nem o pròprio Gilsinho saberia de fato responder, mesmo que o quisesse.
Sei que apenas não representa uma solução.
Sem nada a dizer diretamente, queria apenas convidar-nos todos à reflexão - sempre continuada - acerca de nossos caminhos, nossos movimentos, nossas escolhas, nossos "paradeiros". Eu tenho escolhido - e cada vez mais - o movimento. No movimento vejo o motor da vida. Denominamos de tempo a sequência de movimentos que vão modificando nossas personalidades, nosso dia-a-dia, nossos hàbitos, nosso mundo, nossa memòria, nossos amigos. E, por mais que em Gilsinho como corpo não exista mais movimento, em mim (em nòs) hà seu movimento, seu legado, seus questionamentos, sua "busca pela verdade", sua mùsica, seus dedos finos... Somos todos formados um pouco pelos outros. Tenho em mim pedaços, idéias, pensamentos, sorrisos e choros dos que me rodeiam. Me vejo em vàrios momentos dizer algo que sei que veio de um ou de outro amigo, e que agora està em mim, que é "eu". Que movimentemos e que mantenhamos acesa a chama dos que nos importam dentro de nòs, que percebamos o quanto o outro importa ao ponto de nunca esquecermos de ir ao seu encontro, de fazer uma visita de 5 minutos que seja, ou simplesmente mandar algumas palavras, doces ou amargas, mas que comunique algo, onde haja uma troca. 
Sinto falta do ultimo abraço que poderia ter dado no meu amigo querido que foi se distanciando aos poucos até desaparecer, como agora. Sinto falta dos abraços amigos que poderia ter agora e não tenho. Sinto vontade de movimento e isso me faz continuar, não sei se sempre firme, mas sim forte em direçao ao mundo e principalmente aos que queremos mais bem.
Apenas pra deixar um tanto mais claro, a intenção de escrever o que escrevo agora é de soltar um suspiro de importância às amizades valiosas que temos e que o mesmo movimento que traz leva, como uma onda nesse oceano que nos separa.
Fico guardado no proximo abraço que possamos dar, pleno de calor e de vida, pois é o que parece mais interessar hoje e sempre.
Gilsinho, sempre o amei e sempre o amarei.
O amor é uma palavrinha que o uso carregou de pre-conceitos e de imagens desnecessàrias que até nos impede de utilizà-la comumente, mas que comporta em si o grande segredo dos nossos movimentos, mesmo que não o digamos. Sinto.
Com pesar, triste, porém cheio de vida,
Um abraço forte, morno e confortante,

Marquinho.

Nenhum comentário: