quinta-feira, 30 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Olhar de Teto
Trancado no pijama do meu quarto
As folhas voam em branco.
Mísérias gloriosas enfeitam
Meus nadas.
De sapatos, o quarto
Quer que eu queira;
E, eu não quero.
Me pego em embates inúteis
Com minhas paredes.
Mas, elas são molengas;
E, eu derrubá-las-ia
Acaso houvesse-me ímpeto.
De resignado, eu calo.
Olho os olhos do meu teto
Que me olham...
E, eu finjo não vê-los...
Olhar de teto: olhar olblíquo.
André Raboni
http://www.desterritorio.blogspot.com/
marcus.
Trancado no pijama do meu quarto
As folhas voam em branco.
Mísérias gloriosas enfeitam
Meus nadas.
De sapatos, o quarto
Quer que eu queira;
E, eu não quero.
Me pego em embates inúteis
Com minhas paredes.
Mas, elas são molengas;
E, eu derrubá-las-ia
Acaso houvesse-me ímpeto.
De resignado, eu calo.
Olho os olhos do meu teto
Que me olham...
E, eu finjo não vê-los...
Olhar de teto: olhar olblíquo.
André Raboni
http://www.desterritorio.blogspot.com/
marcus.
a fome de dias depois (André Raboni)
A fome de dias depois
Aquele ser não tinha nome. Nem números. Ouvira certa vez um nome, que já lhe parecia, agora, algo estranho e irreconhecível. De um reconhecimento breve e distante, que não sabia identificar ao certo de onde provinha. Tudo lhe era estranho.Comia restos quando restava algo nos tambores de plástico que repousavam gordos nos magros asfaltos. Dia a dia, mais menos restos lhe restava. Sobravam-lhe as faltas de resto, que devorava como se fossem belos pratos nobres. Não distinguia gostos, pois os deuses lhe subtraíram as faculdades do paladar.Sua sorte é que lhe restavam as pernas (apesar de só possuir um braço e meio). Embora magras, serviam-lhes para seu único objetivo: andar em busca de restos de pedaços.E assim passavam seus dias trôpegos.Quando, porém, viu-se na metrópole dos desertos, ele já não encontrava nem pedaços de restos. Menos e menos tambores de restos lhe cruzavam o caminho. Sedento de fome (que lhe era o único motor de sua existência), ele caminhava.E caminhava, caminhava...Já não tinha resto com que se deleitar. Sobravam-lhe todas as faltas de pedaços. Na falta plena, passou a comer seus próprios produtos: as fezes.Porém, a cada dia obrava menos. Passou, então, a armazenar os excedentes de sua produção. Estocava-os para comer sempre que sentisse fome. E comia embuído com muita dignidade aquela pasta marrom que acumulava em sacos plásticos envelhecidos pelo calor e pelo tempo.No entanto, percebeu que a cada dia sua produção diminuía mais e mais. Lembrara-se da única vez que haviam lhe ensinado alguma coisa. Lembrava, ainda que vagamente, uma frase:"Seus órgãos consomem seus alimentos."Não sabia ao certo o que eram órgãos. Mas, sabia que essas coisas estavam dentro de seu corpo. Elaborou, entredentes, um plano, chegando à uma conclusão:"Ou acabo com esses malditos órgãos, ou eles acabam com meus alimentos."E, assim, detalhou seu plano riscando desenhos no chão das areias-de-seu-deserto.Assim, iniciou seu plano, rasgando a barriga e retirando pedaços de carne (que sangravam muito). Fora juntando esses pedaços enquanto retirava outros mais. Ao fim do processo, estava tonto e com fome.Recostou as carnes da barriga, e envolveu-as com um pano velho e sujo que havia preparado especialmente para aquela ocasião.Ao fim, deitou para descansar um pouco. Minutos depois, acordou, e sentia muita fome. Vendo todas aquelas suculentas carnes que repousavam ainda quentes ao seu lado, devorou-as como nunca antes havia se deleitado...No dia seguinte, percebeu que de fato sua massa fecal havia aumentado. Percebeu que seu idéia tinha sido genial, e dado mais do que certo.Passou alguns dias sem andar, pois estava muito fraco. Mas, logo se sentiu revigorado - e obrando como nunca. Jamais tivera banquetes tão ricos.Ele regressou de seu deserto, para ter com os outros seres. Sua aparência nunca fora das melhores. Agora, então, estava pior que nunca. Envelhecera rapidamente. No seu trajeto, retornando do seu deserto, não encontrara nenhum'alma viva - que dirá corpos...Desfaleceu-se pouco a pouco, nas bordas de seu deserto. Avistara entre o sol e a sombra, um corpo de homem. Era semelhante a um componente de algum órgão do ministério, pois vestia farda, e estampava um brilhante crachá...Tal homem, possesso que estava de piedade, resolveu dar cabo no sofrimento que supunha ser o daquele ser, aplicando-lhe golpes certeiros em sua cabeça, com um porrete de pau enorme - em nome de Deus.Dias depois, estavam alguns outros seres a devorar aquele corpo-sem-órgãos.
Texto de André Raboni
em http://www.desterritorio.blogspot.com/
marcus.
Aquele ser não tinha nome. Nem números. Ouvira certa vez um nome, que já lhe parecia, agora, algo estranho e irreconhecível. De um reconhecimento breve e distante, que não sabia identificar ao certo de onde provinha. Tudo lhe era estranho.Comia restos quando restava algo nos tambores de plástico que repousavam gordos nos magros asfaltos. Dia a dia, mais menos restos lhe restava. Sobravam-lhe as faltas de resto, que devorava como se fossem belos pratos nobres. Não distinguia gostos, pois os deuses lhe subtraíram as faculdades do paladar.Sua sorte é que lhe restavam as pernas (apesar de só possuir um braço e meio). Embora magras, serviam-lhes para seu único objetivo: andar em busca de restos de pedaços.E assim passavam seus dias trôpegos.Quando, porém, viu-se na metrópole dos desertos, ele já não encontrava nem pedaços de restos. Menos e menos tambores de restos lhe cruzavam o caminho. Sedento de fome (que lhe era o único motor de sua existência), ele caminhava.E caminhava, caminhava...Já não tinha resto com que se deleitar. Sobravam-lhe todas as faltas de pedaços. Na falta plena, passou a comer seus próprios produtos: as fezes.Porém, a cada dia obrava menos. Passou, então, a armazenar os excedentes de sua produção. Estocava-os para comer sempre que sentisse fome. E comia embuído com muita dignidade aquela pasta marrom que acumulava em sacos plásticos envelhecidos pelo calor e pelo tempo.No entanto, percebeu que a cada dia sua produção diminuía mais e mais. Lembrara-se da única vez que haviam lhe ensinado alguma coisa. Lembrava, ainda que vagamente, uma frase:"Seus órgãos consomem seus alimentos."Não sabia ao certo o que eram órgãos. Mas, sabia que essas coisas estavam dentro de seu corpo. Elaborou, entredentes, um plano, chegando à uma conclusão:"Ou acabo com esses malditos órgãos, ou eles acabam com meus alimentos."E, assim, detalhou seu plano riscando desenhos no chão das areias-de-seu-deserto.Assim, iniciou seu plano, rasgando a barriga e retirando pedaços de carne (que sangravam muito). Fora juntando esses pedaços enquanto retirava outros mais. Ao fim do processo, estava tonto e com fome.Recostou as carnes da barriga, e envolveu-as com um pano velho e sujo que havia preparado especialmente para aquela ocasião.Ao fim, deitou para descansar um pouco. Minutos depois, acordou, e sentia muita fome. Vendo todas aquelas suculentas carnes que repousavam ainda quentes ao seu lado, devorou-as como nunca antes havia se deleitado...No dia seguinte, percebeu que de fato sua massa fecal havia aumentado. Percebeu que seu idéia tinha sido genial, e dado mais do que certo.Passou alguns dias sem andar, pois estava muito fraco. Mas, logo se sentiu revigorado - e obrando como nunca. Jamais tivera banquetes tão ricos.Ele regressou de seu deserto, para ter com os outros seres. Sua aparência nunca fora das melhores. Agora, então, estava pior que nunca. Envelhecera rapidamente. No seu trajeto, retornando do seu deserto, não encontrara nenhum'alma viva - que dirá corpos...Desfaleceu-se pouco a pouco, nas bordas de seu deserto. Avistara entre o sol e a sombra, um corpo de homem. Era semelhante a um componente de algum órgão do ministério, pois vestia farda, e estampava um brilhante crachá...Tal homem, possesso que estava de piedade, resolveu dar cabo no sofrimento que supunha ser o daquele ser, aplicando-lhe golpes certeiros em sua cabeça, com um porrete de pau enorme - em nome de Deus.Dias depois, estavam alguns outros seres a devorar aquele corpo-sem-órgãos.
Texto de André Raboni
em http://www.desterritorio.blogspot.com/
marcus.
domingo, 5 de outubro de 2008
Embriaguem-se (Charles Baudelaire)
"EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."
Charles Baudelaire.
essa já foi postada neste espaço virtual certa vez.
mas senti que merecia uma releitura.
para ver o entendimento, talvez, se refazer.
marcus.
PS.: IMAGEM>> Caravaggio - S Jeronimo
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
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