quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Um Toque na Baleia
O que se seguirá não ultrapassa o campo da tentativa de descrição de um momento percebido num tempo que não pára. Aliás, que parece parar com o auxílio de algo que denominamos arte, neste caso específico, a arte da fotografia. Quando de um momento perdido no tempo, na vida das pessoas, seja por sensibilidade ou por acaso, captamos e eternizamos numa fotografia tanta existência compilada em uma única imagem, que é tão potente de vontade, de vida, de arte.
O poder de parar o tempo. Além da fotografia, a pintura compartilha de tal propriedade sensível. Também a literatura, o cinema e, porquê não, a música, a narração oral e tanto mais. Para não me estender neste "prefácio", nesta introdução explicativa que visa situar o meu relato, inicio-o:
Presenciei ontem uma bela e singular cena ao mostrar para minha mãe as últimas fotos que revelei. Em meio a estas fotos, algumas me fizeram parar e pensar o quanto uma pessoa pode, a partir de uma busca consciente, desenvolver e encontrar habilidades antes pretendidas, que por um momento, são alcançadas, tocadas.
O momento que quero descrever - e não consigo fazê-lo por completo, pois talvez o meu poder de narração seja um tanto limitado, ou mesmo talvez o poder de narração escrita não alcance completamente o seu intiuito de repetir e eternizar o momento chave inicial - é o momento em que minha mãe, passando nas maõs as fotos expostas, chegou a foto da minha avó (uma foto de um rosto de quase 88 anos, de perto, enquadrada do lado direito da fotografia. Uma foto do olhar carregado de quase 9 décadas de vida, de pele, de tempo, de alegria e realidade, de gravidade e beleza) e neste momento vi minha mãe, que olhava com atenção a foto, lacrimejar. Olhou para mim, disse: "acho que eu vou chorar" e rapidamente voltou a olhar para a foto como se ali houvesse um túnel, um portal para um mundo tanto desconhecido como conhecido que existe compilado a partir de toda uma vida de um ser humano como aquele que morava ali naquela imagem, tudo reunido num só olhar, num só momento, captado pela fotografia, tudo enternizado ali.
As lágrimas de alegria e de realidade da filha que olha, vê e percebe o que uma fotografia pode proporcionar. Essas lágrimas e essa sensibilidade me tocaram. Fiquei orgulhoso da arte que não é minha. Que depois de tanto buscá-la, discuti-la, refleti-la, por um lapso de segundo a percebi e a senti em minhas mãos. A arte que paira sobre tantos, há tanto tempo. Onde o momento é percebido, o obturador da máquina fotográfica é pressionado e então tal momento é eternizado naquele rolo de filme-negativo que está guardado na caixa escura deste instrumento tão belo, tão capaz.
Minha intenção é dividir este sentimento de completude que existe quando percebo a arte como uma baleia, a quem tanto procuro e sobre quem tanto penso, discuto, sonho. O momento em que a baleia passa perto de mim, onde posso acariciá-la por um segundo e ela se vai, nadando em águas escuras e desconhecidas. Até que percebo que esta baleia pode atender por um chamado o qual ela nos ensina paulatinamente e aprendemos também aos poucos. Por vezes, pode chegar perto de nós, dar uns pequenos momentos de atenção e ir-se novamente, errante e genial, como uma baleia, como um fio enorme de arte.
marcus de barros.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
“Poem”
January 22nd, 2009Here is a poem that reflects the composition of the story in The Empyrean. I don’t feel that reading any of these posts is essential to the album. They are just my way of offering something to people who are interested.
The following words vaguely express the lyrical and musical form:
From within confusion and darkness,
Reaching up to the source of light,
Trying,
Giving up,
Climbing,
Resting,
Going up,
Going down,
Dying,
Being reborn,
Darkness becomes lighter,
Confusion becomes clearer,
Up,up,up.
Extraído de: johnfrusciante.com
marcus.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Busca
Pus vela em barco
Pra palpar o horizonte
Onde céu mergulha em água
Onde mar se eleva às nuvens
Quis palpar o horizonte
E vagar em terra outra
Conhecer o que há pra além
De um desfecho linear
Naveguei a todo vento
E eclodiu a tempestade
Poderosa expressão
Do que é não ter controle
Clareia o céu, descansa o mar
Para então eu perceber
Que pra além do horizonte
Há o que há em todo canto
Horizonte que se faz
No bem-ser aqui e agora
Completude grandiosa
Que nos leva à em tudo estar
(Uma possível replica ao post “horizonte” do amigo Marcus.)
Gilson
sábado, 24 de janeiro de 2009
horizonte
o que tento fazer é aumentar o campo de significação, de significado de cada palavra, de cada expressão.
todavia, é uma tarefa árdua, pois o hábito que reside sobre os ouvidos dos outros e sobre os nossos próprios nos deixa quase que "dando murro em ponta de faca", para usar uma expressão habitual, em se tratando de hábito.
mas estou aprendendo a gostar do ardor que estes "murros" me provocam.a linguagem, a cultura, a linguística, as referências das maiorias são por demais medíocres, por demais ordinárias.
é necessário um amanhecer verdadeiro e um pouco mais definitivo a cada dia.
mudança!
quero colocar uma palavra e aumentar a abrangência significativa dela ao máximo que puder, e após esse máximo, quero perceber que existe ainda outro horizonte mais distante que o anterior para alcançar, e assim sucessivamente. num paralelo com a nossa visão quando estamos no mar nos aproximando do horizonte e este se distancia cada vez mais. só que ainda mais, um horizonte ainda mais distante que o horizonte definido e conhecido.
quero cada vez menos contato com o cansaço.
deixo-o bem ao longe, após o horizonte.
horizonte
do Lat. horizonte < Gr. horízon, o que limitas. m.,
linha circular que limita o campo da nossa observação;
parte da superfície da Terra que a nossa vista abrange;
plano tangente à Terra, no local de observação (horizonte geográfico ou real);
plano perpendicular à vertical;
círculo máximo que corta a esfera em duas partes iguais (hemisfério superior e hemisfério inferior) e que tem como pólos o zénite e o nadir (horizonte celeste, racional ou geocêntrico);
fig.,
extensão de uma acção, de uma actividade;
espaço;
perspectiva;
Pint.,
linha que termina o céu de um quadro.
a palavra horizonte significa tanto mais que isto! ou ao menos deveria significar.
quero dicionários mais completos.
dicionários vivos dentro de cada um de nós, com a vivência, a partir da experiência de seja lá o que for maior, mais além.
menos máquina, menos material e mais humano, mais espiritual que seja (no sentido mais amplo da palavra, sem dogmas nem jargões).por horizontes mais distantes, sem paredes por perto!
por dicionários demasiadamente mais completos, para além das palavras!
pela intriga com o cansaço!
acordemo-nos!
estamos aquém do que somos.
ser é infinitamente mais que palavra, que signo, que qualquer explicação que eu pudesse dar agora definiria.
viva.
acordemo-nos!
marcus.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Lapidações e outros horrores
sei que assim como faço, torno o blog quase um espelho do que é publicado no caderno de saramago. mas, a cada vez que leio algo como isto que virá abaixo (que saramago escreve) tenho vontade de colocar aqui para preencher, compartilhar, seja o que for, sobre opiniões e pensamentos que realmente importam.
e isso importa.
marcus.
(foto: José Saramago)
Lapidações e outros horrores
Janeiro 15, 2009 by José SaramagoA notícia queima. O mufti da Arábia Saudita, máxima autoridade religiosa do país, acaba de emitir uma fatua que permite (permitir é um eufemismo, a palavra exacta deveria ser impor) o casamento de meninas na idade de 10 anos. O dito mufti (hei-de lembrar-me dele nas minhas orações) explica porquê: porque a decisão é “justa” para as mulheres, ao contrário da fatua anteriormente vigente, que havia fixado em 15 anos a idade mínima para o casamento, o que Abdelaziz Al Sheji (esse é o nome) considerava “injusto”. Sobre as razões deste “justo” e deste “injusto”, nem uma palavra, não se nos diz sequer se as meninas de 10 anos foram consultadas. É certo que a democracia brilha pela inexistência na Arábia Saudita, mas, num caso de tanto melindre, poderia ter-se aberto uma excepção. Enfim, os pedófilos devem estar contentes: a pederastia é legal na Arábia Saudita. Outras notícias que queimam. No Irão foram lapidados dois homens por adultério, no Paquistão cinco mulheres foram enterradas vivas por quererem casar-se pelo civil com homens da sua escolha… Fico por aqui. Não aguento mais.
José Saramago
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
frusciante stuff
it´s about music, (we know)
about life, (...)
about give up, (!)
about not giving up, (!!)
about us.
pourqoi pas (why not)?
(marcus)
"Today, Frusciante's arms are covered with abscess scars; they look like they've suffered third-degree burns. He was taught to shoot up by people who didn't really know how; when he started getting abscesses, he persisted anyway: "I just didn't care what was going to happen to me. I always thought I was very close to dying." Frusciante thought he would never be able to kick heroin. "When I was a junkie, I would think, 'How at can I ever stay clean? I'll always be able to compare it with how it feels to be on drugs.' And I thought being on drugs was the ultimate way you could feel. I was so proud to be on them. I love everything that I felt on drugs, but I can do more justice to those feelings by trying to re-create them with my music." He says his scarred arms don't bother him and that he's recently felt confident enough to start taking his shirt off onstage again, an essential part of being a Pepper. "I wouldn't trade them for the way I used to look," he says. "At 19, I might have looked like a stud, but I was a weakling inside. I wasn't proud of who I was then. And now I'm proud of who I am." Frusciante debuted most of the songs for his upcoming solo album in his living room, in impromptu concerts for friends: "A couple of years ago, I could only make people feel sad. That was the only ability I had. So it means everything to me to be able to sit down and sing and play guitar and make whoever I'm with feel good.""
Frusciante, The Empyrean - part three
ele também é um dos poucos.
(marcus)
The Empyrean - part three
January 5th, 2009My describing The Empyrean as a story is accurate from my viewpoint, but misleading, as there are no road signs to lead someone else to perceive a clear story out of it. There was no intention to write what would be seen as clear-cut story, though it is one to me. Being that it takes place in the mind of one person, no laws of time and space, or concrete relationships exist therein. This is to say that if you look into it with your logical brain you will only strain yourself and come up with nothing. The words were specifically written to document an inner experience of life, the kind that a person has extreme difficulty translating to anyone else. Part of the intention was to write words to connect with other people who have been, or are, overwhelmed by the confusing, inescapable inner world they must live in. Equal attention was given to writing words that would gently direct themselves towards the listeners’ intuitive brain, and their sub-conscience, which I believe comprehends and catalogues everything in a much richer and more multi layered way than our conscious mind. Like a lot of lyrics, it was written to be perceived in as many ways as there are people hearing it. A person to whom the words have no clear, conscious meaning may derive more from it than someone who reads it as I do, and so I recommend hearing or reading it however you will. It would have been simpler to say nothing at all but this only fully occurred to me today, as I have gradually realized that by saying what it is to me, I am encouraging people to see it my way and to me, that’s not what rock lyrics are for. I believe rock lyrics should be open to interpretation and I wrote these so they could be. While I could explain the story as I see it that would detract from the potential multifarious meanings that will come about from people applying their own sense of feeling from their life experience, much as they always do.
José Saramago escreve ...
me sinto um dos poucos.
poucos.
(marcus)
Balanço
By José SaramagoValeu a pena? Valeram a pena estes comentários, estas opiniões, estas críticas? Ficou o mundo melhor que antes? E eu, como fiquei? Isso esperava? Satisfeito com o trabalho? Responder “sim” a todas estas perguntas, ou a mesmo só a alguma delas, seria a demonstração clara de uma cegueira mental sem desculpa. E responder com um “não” sem excepções, que poderia ser? Excesso de modéstia? De resignação? Ou apenas a consciência de que qualquer obra humana não passa de uma pálida sombra da obra antes sonhada. Conta-se que Miguel Ângelo, quando terminou o Moisés que se encontra em Roma, na igreja de San Pietro in Vincoli, deu uma martelada no joelho da estátua e gritou: “Fala!” Não será preciso dizer que Moisés não falou. Moisés nunca fala. Também o que neste lugar se escreveu ao longo dos últimos meses não contém mais palavras nem mais eloquentes que as que puderam ser escritas, precisamente essas a quem o autor gostaria de pedir, apenas murmurando, “Falem, por favor, digam-me o que são, para que serviram, se para algo foi”. Calam, não respondem. Que fazer, então? Interrogar as palavras é o destino de quem escreve. Um artigo? Uma crónica? Um livro? Pois seja, já sabemos que Moisés não responderá.