sofisma
s. m.
1. Argumento capcioso com que se pretende enganar ou fazer calar o adversário.
2. Pop. Engano; logro.
sofista
s. 2 gén.
Pessoa que argumenta com sofismas.
sufista
adj. 2 gén. s. 2 gén.
Que ou pessoa sectária do sufismo.
sufismo
s. m.
Movimento de ascese mística do islão que se espalhou sobretudo do séc. IX ao séc. XII.
sectário
adj.
1. De seita.
s. m.
2. Que faz parte de uma seita.
3. Fig. Partidário obstinado de qualquer sistema.
4. O que segue a outrem no seu modo de pensar ou que lhe obedece cegamente.
5. Prosélito.
6. Partidário.
amainar
v. tr.
1. Colher as velas.
2. Fig. Abrandar.
v. intr. e pron.
3. Acalmar; afrouxar; abrandar.
diatribe
s. f.
1. Escrito ou discurso violento e injurioso (que acusa ou critica).
2. Termo de origem grega (diatribe, “discurso ou conversação filosófica”) que, inicialmente, se refere aos discursos preambulares moralistas dos filósofos estóicos e cínicios na Grécia antiga.
estóico estoico (ói)
adj.
1. Relativo ao estoicismo; austero; impassível.
s. m.
2. Discípulo de Zenão.
3. Partidário do estoicismo.
4. Por ext. Homem firme, inabalável.
cínico
adj.
1. Pertencente à seita filosófica que desprezava as conveniências sociais.
2. Fig. Impudente; obsceno; impudico.
3. Med. Próprio de cão.
s. m.
4. Pessoa dissoluta, sem pudor, desavergonhado.
marcus de barros.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Copo vazio
Copo Vazio
Chico Buarque
Composição: Gilberto Gil
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio,
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar.
É sempre bom lembrar,
Guardar de cor que o ar vazio
De um rosto sombrio está cheio de dor.
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho,
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor.
Que a dor ocupa metade da verdade,
A verdadeira natureza interior.
Uma metade cheia, uma metade vazia.
Uma metade tristeza, uma metade alegria.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
Chico Buarque
Composição: Gilberto Gil
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio,
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar.
É sempre bom lembrar,
Guardar de cor que o ar vazio
De um rosto sombrio está cheio de dor.
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho,
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor.
Que a dor ocupa metade da verdade,
A verdadeira natureza interior.
Uma metade cheia, uma metade vazia.
Uma metade tristeza, uma metade alegria.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
re-postagem
re-mexendo aquivos (arquivos virtuais... quando percebo isto penso em começar a só escrever no papel, quem sabe comprar uma pena e um tinteiro...);...
enfim, recomeçando, re-mexendo em arquivos encontrei dois que já foram postados - o primeiro em novembro de 2008 e o segundo em abril de 2009 - senti o impulso e resolvi colocá-los novamente aqui, pois são temas que precisam sempre ser retomados.
ps.: sinto a necessidade de comentar que os procurei porque um professor pediu-me um poema em lugar da prova de conclusão de disciplina (teoria da literatura 4); achei que devia pôr este que se segue em primeiro lugar.
I. primeiro:
ao amigo De Morais
"por enquanto
e depois de quando
tem tu,
"arcústico", artístico e sensível
de um set-list intimista
caro raro e puro
ponto
no escuro
sua música me arrefece
desde os tempos idos dos diocesanos
e, ao vê-la (a sua música) criar ombros largos
lembro-me de nós, que éramos ainda mais franzinos
que éramos ainda mais pequenos
ainda mais imaturos
ainda mais despertos
quem éramos nós?
naqueles nós de personalidade
de música!
quem somos nós?
nós de cérebros, idéias,
vontades.
nós de imagem,
imaginação e fotografia.
de cena,
de música (de novo e sempre),
de psicologia?
de novo,
de tudo,
do que quer que fosse que viesse.
[e virá.
um click, de imagem, no meio da vida."
Marcus de Barros
segundo:
"De Morais:
"e quando tudo acabar? será o fim?" como tudo que acabou ultimamente,
(quase) percebemos que a existencia é circular.. ad infinittum
De Barros:
ou o tempo é circular ou o futuro é o passado e o passado é o futuro.
e toda essa estranheza que sentimos com o tempo se dá pelo consenso social de acreditar num futuro que seguirá, baseado na esperança, e num passado cheio de memórias deturpadas, como sugere Borges de maneira semelhante em seu A História da Eternidade.
o tempo, circular que seja, ou aleatório (gosto mais desta opção), ou labiríntico, contrário...
o importante é senti-lo.
e por mim parece que este - o tempo - vem cruzando meu corpo como se a matéria que o compõe fosse realmente transcendental (do meu corpo), pois sinto-me atravessado pelo tempo, pelo mundo, pelas pessoas..
até pelas palavras, quando ouso tocá-las ou apenas olhá-las.
acho que essa palavra é bem cabível neste instante, "atravessado".
como João Cabral de Melo Neto inicia seu poema sobre o Capibaribe, "como uma espada atravessa uma fruta, o rio atravessa a cidade". essa imagem me vem à mente e deveras me satisfaz cognitivamente, me parece bela e atravessada.
eu, sinto o tempo atravessar-me. como uma espada à uma laranja.
o que tento é pegar o cabo deste tempo-espada quando ele passa por mim e utilizá-lo como asas, ou barco, veículo pra ir a um outro espaço no tempo. num outro instante.
o que tento é perceber o instante como suficiente ao suprimir o futuro e o passado.
como num tempo circular, onde o agora volta, então precisa ser bem desejado e abraçado. na velha idéia do eterno retorno e vontade de potência mesmo.
numa ode ao tempo do instante.
num viva de hoje.
e para o amanhã deixo apenas o amanhã."
marcus de barros.
enfim, recomeçando, re-mexendo em arquivos encontrei dois que já foram postados - o primeiro em novembro de 2008 e o segundo em abril de 2009 - senti o impulso e resolvi colocá-los novamente aqui, pois são temas que precisam sempre ser retomados.
ps.: sinto a necessidade de comentar que os procurei porque um professor pediu-me um poema em lugar da prova de conclusão de disciplina (teoria da literatura 4); achei que devia pôr este que se segue em primeiro lugar.
I. primeiro:
ao amigo De Morais
"por enquanto
e depois de quando
tem tu,
"arcústico", artístico e sensível
de um set-list intimista
caro raro e puro
ponto
no escuro
sua música me arrefece
desde os tempos idos dos diocesanos
e, ao vê-la (a sua música) criar ombros largos
lembro-me de nós, que éramos ainda mais franzinos
que éramos ainda mais pequenos
ainda mais imaturos
ainda mais despertos
quem éramos nós?
naqueles nós de personalidade
de música!
quem somos nós?
nós de cérebros, idéias,
vontades.
nós de imagem,
imaginação e fotografia.
de cena,
de música (de novo e sempre),
de psicologia?
de novo,
de tudo,
do que quer que fosse que viesse.
[e virá.
um click, de imagem, no meio da vida."
Marcus de Barros
segundo:
"De Morais:
"e quando tudo acabar? será o fim?" como tudo que acabou ultimamente,
(quase) percebemos que a existencia é circular.. ad infinittum
De Barros:
ou o tempo é circular ou o futuro é o passado e o passado é o futuro.
e toda essa estranheza que sentimos com o tempo se dá pelo consenso social de acreditar num futuro que seguirá, baseado na esperança, e num passado cheio de memórias deturpadas, como sugere Borges de maneira semelhante em seu A História da Eternidade.
o tempo, circular que seja, ou aleatório (gosto mais desta opção), ou labiríntico, contrário...
o importante é senti-lo.
e por mim parece que este - o tempo - vem cruzando meu corpo como se a matéria que o compõe fosse realmente transcendental (do meu corpo), pois sinto-me atravessado pelo tempo, pelo mundo, pelas pessoas..
até pelas palavras, quando ouso tocá-las ou apenas olhá-las.
acho que essa palavra é bem cabível neste instante, "atravessado".
como João Cabral de Melo Neto inicia seu poema sobre o Capibaribe, "como uma espada atravessa uma fruta, o rio atravessa a cidade". essa imagem me vem à mente e deveras me satisfaz cognitivamente, me parece bela e atravessada.
eu, sinto o tempo atravessar-me. como uma espada à uma laranja.
o que tento é pegar o cabo deste tempo-espada quando ele passa por mim e utilizá-lo como asas, ou barco, veículo pra ir a um outro espaço no tempo. num outro instante.
o que tento é perceber o instante como suficiente ao suprimir o futuro e o passado.
como num tempo circular, onde o agora volta, então precisa ser bem desejado e abraçado. na velha idéia do eterno retorno e vontade de potência mesmo.
numa ode ao tempo do instante.
num viva de hoje.
e para o amanhã deixo apenas o amanhã."
marcus de barros.
sábado, 14 de novembro de 2009
Atento, alerta
Atento, alerta
(Egberto Gismonti)
nem sei quem sou nesta vida
pensei: que fiz neste mundo?
eu sou gente, um ser consciente
ou sou um andróide, que trabalha
vota em branco, vai ao banco?
vida amor, morta em meu "quem sou eu"?
depois me entrego em pó ao chão
atento, alerta, ao que se oferta a mim
dor, lei, guerra quente, fria chega
rompo com o mundo dos homens
forjo meu próprio viver
passo do olhar um lugar amor, camará
lute você se quiser
eu fujo armado de amor
armas de amante ansioso
brancas, polidas
eu sou desertor, desertei
eu quero achar a poesia do mundo e o poeta
que fez que a rosa rosasse
fique em mim quem padece amando
sobrepondo o amor
eu vou ser
cego, surdo, mudo ao mundo
dos que se entregam a batalhas, matam, escapam medalhas
fazem do peito um lugar a dor, camará
lute voce se quiser
eu fujo armado de amor
armas de amante ansioso
brancas, polidas
eu sou desertor, desertei
no amor eu acho a poesia do mundo e o poeta
que fez, que a lua luasse
fique em mim quem padece amando
sem descrer do amor
atento, alerta
atento, alerta
atento, alerta
(Egberto Gismonti)
nem sei quem sou nesta vida
pensei: que fiz neste mundo?
eu sou gente, um ser consciente
ou sou um andróide, que trabalha
vota em branco, vai ao banco?
vida amor, morta em meu "quem sou eu"?
depois me entrego em pó ao chão
atento, alerta, ao que se oferta a mim
dor, lei, guerra quente, fria chega
rompo com o mundo dos homens
forjo meu próprio viver
passo do olhar um lugar amor, camará
lute você se quiser
eu fujo armado de amor
armas de amante ansioso
brancas, polidas
eu sou desertor, desertei
eu quero achar a poesia do mundo e o poeta
que fez que a rosa rosasse
fique em mim quem padece amando
sobrepondo o amor
eu vou ser
cego, surdo, mudo ao mundo
dos que se entregam a batalhas, matam, escapam medalhas
fazem do peito um lugar a dor, camará
lute voce se quiser
eu fujo armado de amor
armas de amante ansioso
brancas, polidas
eu sou desertor, desertei
no amor eu acho a poesia do mundo e o poeta
que fez, que a lua luasse
fique em mim quem padece amando
sem descrer do amor
atento, alerta
atento, alerta
atento, alerta
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
melodia da vida em Beto Guedes
Gostaria de, em poucas palavras, traduzir o sopro de vida que percebo na melodia, na voz e nas palavras de Beto Guedes.
Gostaria de, apenas nesse comentário, deitar o foco sobre três canções que têm me tocado bastante.
A primeira chama-se "A página do relâmpago elétrico" e em certa altura diz:
"Não ter medo de nenhuma careta
Que pretende assustar
Encontrar o coração do planeta
E mandar parar
Pra dar um tempo de prestar atenção nas coisas
Fazer um minuto de paz
Um silêncio que ninguém esquece mais
Que nem ronco do trovão
Que eu lhe dou para guardar"
Bem, só me vêm à cabeça instantes de encontro com o fio de vida e de absurdo da existência que alcançamos em alguns momentos, como uma Ayahuasca da vida, ou um Psilocibe Cubensis... e não só aí... se formos sensíveis e lúcidos o suficiente para perceber e aprender a olhar o mundo com mais atenção, como Guedes diz acima, podemos chegar cada vez mais perto do que importa um tanto mais que as outras coisas, que é esse equilíbrio, essa homeostase....
Uma certa agonia, um fervilhar de movimento, vem por trás com os instrumentos, e a calma que abranda e propõe o paralelo vem com a voz e o timbre de Guedes.
Outra canção se chama "Nascente", e a beleza de simplicidade e poesia no que fala só não alcança a sua voz que propõe uma melodia que quase se transforma em brisa...
A canção que se chama "Lumiar" me deixa pensando sobre um mundo utópico e bucólico. Ao se escutar talvez o que digo faça sentido - ao menos se digo isso pra mim mesmo...
A página do relâmpago elétrico, http://www.youtube.com/watch?v=MTuzPMQ3ggg
Nascente, http://www.youtube.com/watch?v=pkvqXTpfjyI
Lumiar, http://www.youtube.com/watch?v=Z_T5lN44Uq8
OBS:. Fazer atenção à duas coisas: uma, ao vídeo de A página do relâmpago elétrico, que obviamente não foi produzido por Guedes, e sim por alguém que pegou aquelas imagens e as uniu à música; outra, à qualidade e beleza absurdas que estão contidas nessas imagens, estou estupefacto, entorpecido com tal retrato da natureza...
considero que o melhor que tenho a fazer é ficar nas reticências (ou sair através delas) ...
Marcus de Barros.
--------------------------------------------------------------------
Lumiar
(Beto Guedes e Ronaldo Bastos)
Anda, vem jantar,
vem comer, vem beber, farrear
até chegar Lumiar
e depois deitar no sereno
só pra poder dormir e sonhar
pra passar a noite
caçando sapo, contando caso
de como deve ser Lumiar
Acordar, Lumiar, sem chorar,
sem falar, sem querer
acordar em lumiar
levantar e fazer café
só pra sair caçar e pescar
e passar o dia
moendo cana, caçando lua
clarear de vez Lumiar
Amor, Lumiar,
pra viver, pra gostar,
pra chover, pra tratar de vadiar
descançar os olhos, olhar e ver e respirar
só pra não ver o tempo passar
pra passar o tempo
até chover, até lembrar
de como deve ser Lumiar
Anda, vem cantar,
vem dormir, vem sonhar, pra viver
até chegar em Lumiar
Estender o sol na varanda até queimar
só pra não ter mais nada a perder
pra perder o medo, mudar de céu, mudar de ar
clarear de vez Lumiar
Gostaria de, apenas nesse comentário, deitar o foco sobre três canções que têm me tocado bastante.
A primeira chama-se "A página do relâmpago elétrico" e em certa altura diz:
"Não ter medo de nenhuma careta
Que pretende assustar
Encontrar o coração do planeta
E mandar parar
Pra dar um tempo de prestar atenção nas coisas
Fazer um minuto de paz
Um silêncio que ninguém esquece mais
Que nem ronco do trovão
Que eu lhe dou para guardar"
Bem, só me vêm à cabeça instantes de encontro com o fio de vida e de absurdo da existência que alcançamos em alguns momentos, como uma Ayahuasca da vida, ou um Psilocibe Cubensis... e não só aí... se formos sensíveis e lúcidos o suficiente para perceber e aprender a olhar o mundo com mais atenção, como Guedes diz acima, podemos chegar cada vez mais perto do que importa um tanto mais que as outras coisas, que é esse equilíbrio, essa homeostase....
Uma certa agonia, um fervilhar de movimento, vem por trás com os instrumentos, e a calma que abranda e propõe o paralelo vem com a voz e o timbre de Guedes.
Outra canção se chama "Nascente", e a beleza de simplicidade e poesia no que fala só não alcança a sua voz que propõe uma melodia que quase se transforma em brisa...
A canção que se chama "Lumiar" me deixa pensando sobre um mundo utópico e bucólico. Ao se escutar talvez o que digo faça sentido - ao menos se digo isso pra mim mesmo...
A página do relâmpago elétrico, http://www.youtube.com/watch?v=MTuzPMQ3ggg
Nascente, http://www.youtube.com/watch?v=pkvqXTpfjyI
Lumiar, http://www.youtube.com/watch?v=Z_T5lN44Uq8
OBS:. Fazer atenção à duas coisas: uma, ao vídeo de A página do relâmpago elétrico, que obviamente não foi produzido por Guedes, e sim por alguém que pegou aquelas imagens e as uniu à música; outra, à qualidade e beleza absurdas que estão contidas nessas imagens, estou estupefacto, entorpecido com tal retrato da natureza...
considero que o melhor que tenho a fazer é ficar nas reticências (ou sair através delas) ...
Marcus de Barros.
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Lumiar
(Beto Guedes e Ronaldo Bastos)
Anda, vem jantar,
vem comer, vem beber, farrear
até chegar Lumiar
e depois deitar no sereno
só pra poder dormir e sonhar
pra passar a noite
caçando sapo, contando caso
de como deve ser Lumiar
Acordar, Lumiar, sem chorar,
sem falar, sem querer
acordar em lumiar
levantar e fazer café
só pra sair caçar e pescar
e passar o dia
moendo cana, caçando lua
clarear de vez Lumiar
Amor, Lumiar,
pra viver, pra gostar,
pra chover, pra tratar de vadiar
descançar os olhos, olhar e ver e respirar
só pra não ver o tempo passar
pra passar o tempo
até chover, até lembrar
de como deve ser Lumiar
Anda, vem cantar,
vem dormir, vem sonhar, pra viver
até chegar em Lumiar
Estender o sol na varanda até queimar
só pra não ter mais nada a perder
pra perder o medo, mudar de céu, mudar de ar
clarear de vez Lumiar
domingo, 8 de novembro de 2009
Como num mundo de depois do fim do mundo
"A literatura fantástica será possível no ano 2000, submetido a uma crescente inflação de imagens pré-fabricadas? Os caminhos que vemos abertos até agora parecem ser dois: 1) Reciclar as imagens usadas, inserindo-as num contexto novo que lhes mude o significado. O pós-modernismo pode ser considerado como a tendência de utilizar de modo irônico o imaginário dos meios de comunicação, ou antes como a tendência de introduzir o gosto do maravilhoso, herdado da tradição literária, em mecanismos narrativos que lhe acentuem o poder de estranhamento. 2) Ou então apagar tudo e recomeçar do zero. Samuel Beckett obteve os mais extraordinários resultados reduzindo ao mínimo os elementos visuais e a linguagem, como num mundo de depois do fim do mundo." (Italo Calvino, em "Visibilidade", a quarta das "Seis propostas para o novo milênio", escritas em 1985.)
Isso foi escrito por Calvino em 1985, e pré-diz muito bem o que poderia vir e veio, e virá ainda.
Não posso continuar sem comentar que essas "Seis propostas..", que são cinco - Calvino morreu antes de terminar o projeto - são, sem dúvida, a melhor coisa que li desde muito tempo; que me levou aquele gozo literário que acompanha as grandes descobertas provocadas pela palavra escrita, onde deitado na rede você encosta o livro no peito e reflete a leitura durante alguns momentos acompanhado de uma sensação de que algo grande e autêntico ainda pode ser encontrado em meio a todo esse mundo falso que nos envolve cada vez mais em nossa conteporaneirade, não posso deixar de comentar também.
Mas enfim, o que queria colocar é que me parece que os caminhos andam mais para o número um do que para o número dois - dentro desses que Calvino acabou de enumerar no excerto de texto que está recortado. Uma ironia parece ser mais utilizada do que um "mundo de depois do fim do mundo". Mas não quero discutir isso agora, seria demasiado extenso para o que me proponho nesses vinte minutos em que escrevo - na verdade deveria, tanto mais, dedicar cinco mil minutos para isso, e não só, que mais interessa do que o que mais me proponho a fazer nos meus dias, mas isso é uma outra questão... reticências.
O que quero colocar ainda, finalmente, além de fazer atenção sobre a necessidade de reflexão demorada sobre tal assunto, é que Antonin Artaud propôs em suas propostas para o teatro: "é preciso acabarmos com todas as obras de arte", para que criássemos algo novo e, não só aí, propôs que fugíssemos dos atos cotidianos que nos aprisionam em uma constante re-produção das coisas. Estamos sempre re-conhecendo, re-produzindo, re-presentando; devemos conhecer, produzir e apresentar algo novo, algo diferente; nunca um ator deve repetir o mesmo ato; o cotidiano deve ser abandonado para que uma nova maneira de encarar a vida e o mundo aconteça; não está mais que provado que desta maneira que estamos indo desde muito está dando errado?
Me parece que o "acabar com as obras de arte" de Artaud combina bastante com o segundo caminho de Calvino, o "um mundo de depois do fim do mundo". E com isso eu penso: Artaud, moderno, século XX, pós-moderno, século XXI...
Enfim, a proposta é: além do re-pensar, o pensar. Além do re-escrever, o escrever. Vamos abolir o "re" e vamos dar continuidade à busca pela diferença de que Deleuze fala, de que Artaud fala.
Imagina se o bigode do Nietzsche chegasse com o dono agora e nos visse assim, sentados e parados, apenas re-produzindo e re-conhecendo tudo o que se passa, o que ele nos diria?
Apesar das superficialidades, das confusões e das necessidades, fico, novamente, nas reticências.
Elas me aprazem com a proposta do tempo para pensar, do devir.
Como Leminski quando fala:
"tudo assim como a resposta fica
quando chega a pergunta".
Marcus de Barros.
Nov/2009
Isso foi escrito por Calvino em 1985, e pré-diz muito bem o que poderia vir e veio, e virá ainda.
Não posso continuar sem comentar que essas "Seis propostas..", que são cinco - Calvino morreu antes de terminar o projeto - são, sem dúvida, a melhor coisa que li desde muito tempo; que me levou aquele gozo literário que acompanha as grandes descobertas provocadas pela palavra escrita, onde deitado na rede você encosta o livro no peito e reflete a leitura durante alguns momentos acompanhado de uma sensação de que algo grande e autêntico ainda pode ser encontrado em meio a todo esse mundo falso que nos envolve cada vez mais em nossa conteporaneirade, não posso deixar de comentar também.
Mas enfim, o que queria colocar é que me parece que os caminhos andam mais para o número um do que para o número dois - dentro desses que Calvino acabou de enumerar no excerto de texto que está recortado. Uma ironia parece ser mais utilizada do que um "mundo de depois do fim do mundo". Mas não quero discutir isso agora, seria demasiado extenso para o que me proponho nesses vinte minutos em que escrevo - na verdade deveria, tanto mais, dedicar cinco mil minutos para isso, e não só, que mais interessa do que o que mais me proponho a fazer nos meus dias, mas isso é uma outra questão... reticências.
O que quero colocar ainda, finalmente, além de fazer atenção sobre a necessidade de reflexão demorada sobre tal assunto, é que Antonin Artaud propôs em suas propostas para o teatro: "é preciso acabarmos com todas as obras de arte", para que criássemos algo novo e, não só aí, propôs que fugíssemos dos atos cotidianos que nos aprisionam em uma constante re-produção das coisas. Estamos sempre re-conhecendo, re-produzindo, re-presentando; devemos conhecer, produzir e apresentar algo novo, algo diferente; nunca um ator deve repetir o mesmo ato; o cotidiano deve ser abandonado para que uma nova maneira de encarar a vida e o mundo aconteça; não está mais que provado que desta maneira que estamos indo desde muito está dando errado?
Me parece que o "acabar com as obras de arte" de Artaud combina bastante com o segundo caminho de Calvino, o "um mundo de depois do fim do mundo". E com isso eu penso: Artaud, moderno, século XX, pós-moderno, século XXI...
Enfim, a proposta é: além do re-pensar, o pensar. Além do re-escrever, o escrever. Vamos abolir o "re" e vamos dar continuidade à busca pela diferença de que Deleuze fala, de que Artaud fala.
Imagina se o bigode do Nietzsche chegasse com o dono agora e nos visse assim, sentados e parados, apenas re-produzindo e re-conhecendo tudo o que se passa, o que ele nos diria?
Apesar das superficialidades, das confusões e das necessidades, fico, novamente, nas reticências.
Elas me aprazem com a proposta do tempo para pensar, do devir.
Como Leminski quando fala:
"tudo assim como a resposta fica
quando chega a pergunta".
Marcus de Barros.
Nov/2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Júlio Cortazar define o fantástico
Júlio Cortazar define o fantástico:
“Uma coisa muito simples, que pode acontecer em plena realidade cotidiana, neste meio-dia ensolarado, agora, entre você e eu, ou no metrô, quando você estava vindo para esse nosso encontro.
Trata-se de algo absolutamente excepcional, concordo, mas que não tem por que ser diferente, em suas manifestações, da realidade que nos envolve. O fantástico pode acontecer sem que haja uma mudança espetacular das coisas.
Para mim, o fantástico é, simplesmente, a indicação súbita que, à margem das leis aristotélicas e da nossa mente racional, existem mecanismos perfeitamente válidos, vigentes, que nosso cérebro lógico não capta, mas que em certos momentos irrompem e se fazem sentir”.
(BERMEJO, 2002, p.43)
BERMEJO, Ernesto Gonzáles. Conversas com Cortázar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
A pedido de De Morais, que queria mais "cortazidades".
Que, aliás, nunca acabam. As cortazidades, ou cortaziscências, são absurdas e inacabáveis.
São um gozo para os que vêem na literatura uma saída para o pesar sobre a vida. Com a literatura é menos difícil aturar a vida. Ou, como um grande professor meu diz, "literaturando a vida".
Marcus.
“Uma coisa muito simples, que pode acontecer em plena realidade cotidiana, neste meio-dia ensolarado, agora, entre você e eu, ou no metrô, quando você estava vindo para esse nosso encontro.
Trata-se de algo absolutamente excepcional, concordo, mas que não tem por que ser diferente, em suas manifestações, da realidade que nos envolve. O fantástico pode acontecer sem que haja uma mudança espetacular das coisas.
Para mim, o fantástico é, simplesmente, a indicação súbita que, à margem das leis aristotélicas e da nossa mente racional, existem mecanismos perfeitamente válidos, vigentes, que nosso cérebro lógico não capta, mas que em certos momentos irrompem e se fazem sentir”.
(BERMEJO, 2002, p.43)
BERMEJO, Ernesto Gonzáles. Conversas com Cortázar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
A pedido de De Morais, que queria mais "cortazidades".
Que, aliás, nunca acabam. As cortazidades, ou cortaziscências, são absurdas e inacabáveis.
São um gozo para os que vêem na literatura uma saída para o pesar sobre a vida. Com a literatura é menos difícil aturar a vida. Ou, como um grande professor meu diz, "literaturando a vida".
Marcus.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
COISAS DA CABEÇA
(Estes escritos são pensamentos endereçados para mim,
e que não me incomoda posta-los no Blog.)
Sobre as fugas.
Você buscando a morte assim fantasiada,
furando a vida pelo véu das madrugadas,
não sentindo o tempo com seus cortes de navalha,
é você não autenticando o desamparo dessa jornada.
Uma condição para se bem viver a felicidade é bem saber da tristeza.
Felicidade, que encanta porque escapa
diz assim qu’ela não se basta para a vida como se apresenta.
É preciso um caso com a tristeza - ou um bem saber sobre,
esta que encanta por feminina ser. Irônica e insinuante ela diz
“não seja covarde, e busque sentir as coisas como se deve ser!
Talvez sem o bom tempero, sem o alívio de um amparo no mais tardar aos prazeres
você venha assumir o que você tem a fazer na vida de mais legítimo, quem sabe. O Agora é o que tem de mais próximo ao real para se fazer alguma coisa firme, e mal se chega já passou. Se o agora for tristeza, saiba de mim. Se felicidade for também saiba de mim. É assim que você alcança uma felicidade autêntica. Plenitude é esquiva”
Tristeza pode ser somente um apelido ao que se sente; uma façanha de algo não necessariamente ruim. Ou um apelo legítimo de antemão, um pesar muito bem endereçado. É preciso distinguir, evitar o engodo sobre ela; reparar se ela se faz retórica em seu discurso como se apresenta no self, ou não.
Tristeza quando acordados é o que nos morde,
e ao deitarmos insidiosamente ela se chega.
Seria bom assumir que tristeza também é vida;
sem sentir pesar por isso, ou por quem discorda.
Quando receber intensidade à vida,
ao se dizer feliz procurar saber da tristeza, onde ela
mora (?).
Com quem ou quê, ela é para você agora (?).
Ser o espião dela, e não o contrário.
O saber sobre a tristeza em si mesmo pode ser grande embasamento e impulso à uma felicidade autêntica.
Na foto, Tristeza - Uma gata que eu não gosto mas existe em minha cabeça.
Rodrigo.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
À Mesa com Artaud
À Mesa
(Antonin Artaud, em um dos "manifestos e cartas do período surrealista")
Abandonem as cavernas do ser. Venham. O espírito respira para fora do espírito. É tempo de deixarem suas moradas. Cedam ao Todo-Pensamento. O Maravilhoso está na raiz do espírito.
Nós estamos por dentro do espírito, no interior da cabeça. Idéia, lógica, ordem, Verdade (com V maiúsculo), Razão, deixamos tudo isso ao nada da morte. Cuidado com suas lógicas, Senhores, cuidado com suas lógicas, não sabem até onde pode nos levar nosso ódio à lógica.
E só por um desvio da vida, por uma parada imposta ao espírito, que se pode fixar a vida na sua fisionomia dita real, mas a realidade não está aí. Por isso é desnecessário, a nós que aspiramos a uma certa eternidade surreal, que faz muito tempo já não nos consideramos mais no presente e que nos assemelhamos a nossas sombras reais, é desnecessário virem nos aborrecer em espírito.
Quem nos julga não nasceu para o espírito, para esse espírito que desejamos expressar e que está, para nós, fora do que vocês chamam de espírito. Não precisam chamar nossa atenção para as cadeias que nos prendem à petrificante imbecilidade do espírito. Descobrimos um bicho novo. Os céus respondem à nossa atitude de insensato absurdo. Esse seu hábito de voltar as costas às questões não impedirá que, no dia certo, os céus se abram e uma nova língua se instale no meio das suas elucubrações imbecis, quero dizer, das elucubrações imbecis dos seus pensamentos.
Há signos no Pensamento. Nossa atitude de absurdo e morte é a da maior boa-vontade. Através das fendas de uma realidade doravante inviável, fala um mundo voluntariamente sibilino.
Sim, eis agora o único uso ao qual poderá prestar-se a linguagem, como instrumento para a loucura, para a eliminação do pensamento, para a ruptura, dédalo dos desregramentos e não como um DICIONÁRIO para o qual certos patifes das imediações do Seria canalizam suas contradições espirituais.
Marcus.
(Antonin Artaud, em um dos "manifestos e cartas do período surrealista")
Abandonem as cavernas do ser. Venham. O espírito respira para fora do espírito. É tempo de deixarem suas moradas. Cedam ao Todo-Pensamento. O Maravilhoso está na raiz do espírito.
Nós estamos por dentro do espírito, no interior da cabeça. Idéia, lógica, ordem, Verdade (com V maiúsculo), Razão, deixamos tudo isso ao nada da morte. Cuidado com suas lógicas, Senhores, cuidado com suas lógicas, não sabem até onde pode nos levar nosso ódio à lógica.
E só por um desvio da vida, por uma parada imposta ao espírito, que se pode fixar a vida na sua fisionomia dita real, mas a realidade não está aí. Por isso é desnecessário, a nós que aspiramos a uma certa eternidade surreal, que faz muito tempo já não nos consideramos mais no presente e que nos assemelhamos a nossas sombras reais, é desnecessário virem nos aborrecer em espírito.
Quem nos julga não nasceu para o espírito, para esse espírito que desejamos expressar e que está, para nós, fora do que vocês chamam de espírito. Não precisam chamar nossa atenção para as cadeias que nos prendem à petrificante imbecilidade do espírito. Descobrimos um bicho novo. Os céus respondem à nossa atitude de insensato absurdo. Esse seu hábito de voltar as costas às questões não impedirá que, no dia certo, os céus se abram e uma nova língua se instale no meio das suas elucubrações imbecis, quero dizer, das elucubrações imbecis dos seus pensamentos.
Há signos no Pensamento. Nossa atitude de absurdo e morte é a da maior boa-vontade. Através das fendas de uma realidade doravante inviável, fala um mundo voluntariamente sibilino.
Sim, eis agora o único uso ao qual poderá prestar-se a linguagem, como instrumento para a loucura, para a eliminação do pensamento, para a ruptura, dédalo dos desregramentos e não como um DICIONÁRIO para o qual certos patifes das imediações do Seria canalizam suas contradições espirituais.
Marcus.
A foto saiu fora de foco, Julio Cortázar, em Histórias de cronópios e de famas
A foto saiu fora de foco
Julio Cortázar, em Histórias de cronópios e de famas
Um cronópio vai abrir a porta da rua e ao enfiar a mão no bolso para pegar a chave o que tira é uma caixa de fósforos; então este cronópio fica muito aflito e começa a pensar que se em vez da chave ele encontra os fósforos, seria terrível que o mundo se houvesse deslocado de repente, e então se os fósforos estão no lugar da chave, pode acontecer que ele ache a carteira de dinheiro cheia de fósforos, e o açucareiro cheio de dinheiro, e o piano cheio de açúcar, e o catálogo do telefone cheio de música, e o armário cheio de assinantes, e a cama cheia de roupas, e as jarras cheias de lençóis, e os bondes cheios de rosas, e os campos cheios de bondes. Assim este cronópio fica horrivelmente aflito e corre para se olhar no espelho, mas como o espelho está um pouco de lado, o que ele enxerga é o porta-guarda-chuvas do vestíbulo, e suas desconfianças se confirmam e ele desata a soluçar, cai de joelhos e junta suas mãozinhas nem sabe para quê. Os famas vizinhos acodem para consolá-lo, e também as esperanças, mas passa-se muito tempo antes de que o cronópio saia de seu desespero e aceite uma xícara de chá, que olha e examina muito antes de beber, não vá acontecer que em lugar de uma xícara de chá seja um formigueiro ou um livro de Samuel Smiles.
Marcus.
Julio Cortázar, em Histórias de cronópios e de famas
Um cronópio vai abrir a porta da rua e ao enfiar a mão no bolso para pegar a chave o que tira é uma caixa de fósforos; então este cronópio fica muito aflito e começa a pensar que se em vez da chave ele encontra os fósforos, seria terrível que o mundo se houvesse deslocado de repente, e então se os fósforos estão no lugar da chave, pode acontecer que ele ache a carteira de dinheiro cheia de fósforos, e o açucareiro cheio de dinheiro, e o piano cheio de açúcar, e o catálogo do telefone cheio de música, e o armário cheio de assinantes, e a cama cheia de roupas, e as jarras cheias de lençóis, e os bondes cheios de rosas, e os campos cheios de bondes. Assim este cronópio fica horrivelmente aflito e corre para se olhar no espelho, mas como o espelho está um pouco de lado, o que ele enxerga é o porta-guarda-chuvas do vestíbulo, e suas desconfianças se confirmam e ele desata a soluçar, cai de joelhos e junta suas mãozinhas nem sabe para quê. Os famas vizinhos acodem para consolá-lo, e também as esperanças, mas passa-se muito tempo antes de que o cronópio saia de seu desespero e aceite uma xícara de chá, que olha e examina muito antes de beber, não vá acontecer que em lugar de uma xícara de chá seja um formigueiro ou um livro de Samuel Smiles.
Marcus.
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