"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Série: Visita ao dicionário

lânguido
adj.
adj.
1. Desfalecido; abatido.
2. Frouxo.
3. Voluptuoso.


concupiscência
s. f.
1. Desejo imoderado de satisfazer a sensualidade.
2. Apetite sensual.

renitente
adj. 2 gén.
adj. 2 gén.
Que renite; obstinado, que não cede, que persiste na sua opinião; inflexível.


cute
s. f.
1. Pele da face das pessoas; epiderme.
2. Cútis.



marcus.

Inglorious Basterds


Quentin Tarantino resolve inverter a perspectiva do cinema - que insistia em mostrar nazistas matando judeus desde, desde ... - e colocar judeus matando nazistas.
Pelo que conheço do cinema de Tarantino, ele vai arrancar a pele dos nazistas e vai conseguir fazer muitos rirem com sangue na tela.
Frase pesada por um tema pesado.
O filme vai ser lançado no Brasil no começo de Outubro e já passou pela seleção de Cannes.

Link para assistir o trailer: http://www.youtube.com/watch?v=5sQhTVz5IjQ

Link para ler a sinopse: http://www.interfilmes.com/filme_21397_Bastardos.Inglorios-(Inglourious.Basterds).html

Link para o site oficial do filme: http://www.inglouriousbasterds-movie.com/

Link - Tarantino vem ao Rio lançar o filme: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,quentin-tarantino-vem-lancar-bastardos-inglorios-no-brasil,425674,0.htm


marcus.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Borges, uma literatura ímpar

Coloco aqui - exponho - minha resposta a um grande amigo que me perguntou o que eu pensava ao ler os livros de Borges, estando ele aturdido com sua escrita ímpar.

"Amigo,

Passei uma vista nos títulos dos contos que compõem o livro "Ficções", de Jorge Luís Borges, com a esperança de que tais títulos me fornecessem algo ao qual pudesse iniciar meu comentário. Dentro deste comentário ao qual me refiro, poderia demorar-me dezenas, centenas de linhas. Poderia conversar com você horas ou noites a fio. Me seria bastante aprazível fazê-lo. Porém, hoje, ao ler uma peça de Shakespeare - Hamlet - a qual me foi indicada por um professor a quem muito admiro - me deparei com uma frase que não lembro exatamente quais palavras trazia, mas guardei a idéia, que consiste em que para os grandes atos e pensamentos, a concisão é indispensável, mesmo em sendo um poeta que o faria bem com mil versos em decassílabo. Então, tentarei ser o mais breve e conciso que posso, comentando apenas os contos que me trouxeram primeiramente idéias claras sobre o que entendi ao lê-los, na época que o fiz:

"Funes, o memorioso" - Mais bela referência à memória não encontro. Um homem que, de memória tão prodigiosa e ímpar, memoriza tudo o que vê, que vive e que sente, ao ponto de andar pelas estradas, ver uma árvore e decorá-la por completo, cada parte de seu tronco, cada galho, cada folha e cada reflexo do sol que as gotas de água que pendiam das folhas reluziam. Para descrever dois dias que viveu anos antes, seriam-lhe necessários dois dias completos para a descrição do que estava guardado em sua memória. Num detalhamento de suas lembranças tão absurdo e vasto que a linguagem, se fosse dar um nome diferente a cada lembrança que levava na memória, não bastaria com todos os nomes do mundo para nominá-los um a um.

"As ruínas circulares" - Uma ode e um elogio belíssimo ao sonho. Um homem se isola e admite como meta sonhar um homem completo, desde seu coração, mãos e ombros, cada um a seu momento, até cada fio de cabelo, que se releva o mais difícil de criar em sonho. Quando consegue sonhar este homem pretendido, idealizado e sonhado, o homem que resolveu abraçar tal meta acorda dentro do homem sonhado e olha para si mesmo de dentro do sonho - homem sonhado observa homem que sonhou-o, criação observa criador. Uma interpretação do sonho, como um meta-sonho, que me fez apaixonar-me pela obra de Borges ainda mais.

"Tlön, uqbar, orbis tertius" - Ao invés de escrever dezenas de volumes totalizando milhares de páginas, ao descrever uma enciclopédia absurdamente completa, Borges consegue - em um único conto, no limite de uma dezena ou duas de páginas - fazer existir em nossa mente e, de fato, criar tais enciclopédias. E aliás, nos faz entender o que continham tais enciclopédias, tamanha a concisão e abrangência a sua escrita ambígua e labiríntica nos reserva. Na descrição de um capítulo inexistente nas enciclopédias que foi supostamente posto lá por algum tradutor - denunciando o poder de modificação que a tradução carrega em si - Borges, fala que seu amigo Adolfo Bioy Casares, grande escritor argentino, o ajudou a ler as enciclopédias e desvendar o mistério do capítulo adicionado, mesclando a realidade das suas conversas de biblioteca com Casares e o caráter fantástico de sua obra - e, na descrição de tal capítulo supostamente adicionado, descreve toda uma cultura, toda uma civilização, toda uma humanidade diversa e distante dessa que conhecemos e à qual pertencemos, com a qual descreve e cria uma nova linguagem e uma nova forma de existência. Tlön, uqbar, orbis tertius me faz entrar no mundo da literatura como um verdadeiro universo infinito onde cabemos e somos bem-vindos quando quisermos.

"A biblioteca de Babel" - Aqui o jogo labiríntico da existência, do tempo e da realidade de borges se faz claro e presente do começo ao fim do conto. As formas revelam arquiteturas impossíveis. As passagens do tempo, abissais. Como diferenciar um conto de uma poesia, de um sonho ou do próprio tempo ou da existência? Vale salientar que Borges cresceu e passou a maior parte de seus dias dentro de bibliotecas.

Ademais,
se puderes e tiveres disposição,
seria um bom espaço para (re)análise a (re)leitura de tais contos.
Um abraço enorme, que traduza toda minha admiração por você, querido amigo,
Escreverei mais sobre este nosso assunto assim que me bater à cabeça mais idéias para compartilhar,
Espero que meus comentários um tanto confusos, tendo em vista minha maneira de escrever, sejam de boa utilização para ti.

Marcus de Barros"

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Michael Haneke - Das Weisse Band - Vencedor da Palma de Ouro de Cannes, 2009


Diretor: Michael Haneke

CANNES – O polêmico diretor austríaco Michael Haneke, de "A Professora de Piano", voltou hoje a Cannes com um dos filmes favoritos a conquistar a Palma de Ouro, "Das Weisse Band", que mistura sociologia e sobriedade apavorante e que acabou ofuscando o também ótimo "À l'origine", de Xavier Giannoli.

Cena do Filme "Das Weisse Band"

O Festival de Cannes entra na reta final acelerado: dois filmes longos - duas horas e meia cada -, belos e muito diferentes entre si, mas de altíssimo nível social, filosófico e, principalmente, cinematográfico.

Iconoclasta e revolucionário, em várias ocasiões Haneke descreveu a si mesmo como um otimista que acredita que o espectador reagirá aos golpes secos do cinema que faz: "Todos os meus filmes falam da violência, refletem sobre sua representação", disse hoje em entrevista coletiva.

Dois anos após estender sua mensagem aos Estados Unidos, voltando a filmar em inglês o ofensivo "Violência gratuita" (1997), com "Das Weisse Band" o cineasta aposta no alemão - após um prolongado idílio com o cinema francês.

Com isso, ele resolve com precisão cirúrgica e amargura poética o retrato em preto-e-branco de uma comunidade alemã nos prefácios da Primeira Guerra Mundial.

O diretor de "Caché" (2005), pelo qual recebeu em Cannes o prêmio de melhor cineasta, se serve deste microcosmos que parece mais digno de Bergman ou Dreyer para retratar "com distância, evitando o naturalismo", as devastadoras consequências dos rígidos padrões morais e sua projeção sobre as novas gerações.

"Os princípios absolutos são, em si mesmos, desumanos e, em algumas ocasiões, se traduzem em terrorismo", refletiu o diretor.

(..)continua...

PARA LER TODA A MATÉRIA, CLIQUE AQUI-> http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2009/05/21/das+weisse+band+surpreende+e+se+torna+um+dos+favoritos+em+cannes+6257915.html


(Reportagem de Mateo Sancho Cardiel)





marcus de barros.

domingo, 23 de agosto de 2009

Musas

Estava eu passando, como faço todos os dias, tranquilo - ou atormentado - pelos corredores do CAC (Centro de Artes e Comunicação da UFPE) e me deparei com um cartaz que dizia que ali na sala de exposições do hall do térreo estava em exposição durante o mês de agosto desenhos de um tal Victor Maristane, com nome de DUAL, a mostra me deixou feliz e até impressionado com a perfeição, sensibilidade e profundidade que os desenhos desse garoto trazem em sua arte.
Coloco aqui alguns desenhos - sem permissão - para dividir o prazer que senti ao ver tais corpos e idéias desenhados em simples folhas de ofício.
Quase esqueço-me de comentar o que o garoto tem 17 anos, fato do qual me apercebi ao perguntar-lhe, sem saber que era ele o artista, se ele estudava também na UFPE - respondeu-me que ainda ia fazer vestibular e que fazia escola técnica.
Bom proveito.


http://caopolis.wordpress.com/category/design-e-artes-plasticas/desenhos-e-pinturas/page/2/


http://caopolis.wordpress.com



marcus de barros.


Veja o cérebro,...

...veja o coração,...


...e, só então, o corpo.

Respostas-perguntas à postagem anterior

Minha pouca rapidez em comentar teu excerto de texto se deve à densidade que o mesmo carrega, propõe.
Muitos passam anos, envelhecem e morrem sem que sequer se passe pela cabeça tal pensamento acerca da linearidade do tempo ou algo parecido. Nem sequer pensam sobre o tempo, apenas pensam à partir da concepção comum dele: de que é linear e segue-se sobreposto por ele mesmo a cada segundo. Mesmo a noção de segundo e sua arbitrariedade não é sequer atingida como questionamento. "Quem definiu o tempo exato de um segundo que até hoje encaramo-lo como tal?"
Sei bem que se pode viver bem e tranquilo sem pensar em tais reentrâncias da existência, ou do pensamento; porém, para mim não é possivel não pensá-lo; é-me mesmo um inferno aceitar o tempo como querem todos sem pensar no pesar de tamanha arbitrariedade, sem pensar na possibilidade de encararmos tal, o tempo, como um labirinto, ou como um espiral - como falas - ou mesmo como um jogo de aleatoriedade. E para encará-lo de fato como tais "teorias", seja ela a do tempo circular, labiríntico ou outra, e trazer essa possibilidade para dentro do quarto, para dentro da cabeça e sair na praia à noite achando que de fato o tempo é distinto, destituído do cargo de linear, é um passo. Me sinto até lisonjeado - por sei lá o que, pelo pensamento, talvez - de conseguir sair das saias do tempo e subir acima dele para olhar o que há abaixo, acima e àquela altura.
Bem sei que escrevi bastante e não "disse" nada de novo, nada que atinja alguma conclusão e que o leitor diga: "meu deus, agora faz sentido!", bem sei que não cheguei nisso. E dificilmente chega-se. A questão é que meu intuito, minha vontade, não converge para chegar a uma conclusão. Quero mesmo é colocar perguntas. As respostas, quando consigo, as guardo e as transformo em novas perguntas. Assim nunca me sinto acabado, sem cartas na manga para uma nova cadeia de pensamento e um novo sentido à vida. Assim sinto-me respondendo a cada nova pergunta com outra pergunta. Assim sinto-me sentindo-me, e não respondido e dormente, como alguns - quase todos - querem-nos.

marcus.
Ago/2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O belo

Os gregos iniciaram a noção de beleza - de belo, nós a continuamos e, aliás, a modificamos um tanto. No entanto, demoro-me a encontrar maior ou melhor expressão de beleza que esta:






marcus.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

carta "ao léu".


Saudoso amigo Rodrigo de Oliveira!
Saudo-te quase todos os dias. És como um companheiro imaginário que, no entanto, se faz vivo: existindo das duas - ou três - formas de ser, de existir, de ser movimento no mundo. Plenamente lá - aí - e cá.

Amigo: lucidez.
Esta palavra é muito mais um caminho que uma meta.
Pois se a pusermos como uma meta, como um fim a ser alcançado, caminharemos sem ela em busca de encontrá-la no derradeiro caminho. Se a encararmos como a busca em si - como os passos, o dia-a-dia - andaremos com ela a todo o tempo, como uma sombra, um braço.
Sombra da lucidez, sombra lúcida: clara, simbiótica, intrínseca até.

A partir disso que me veio por hora, penso em muita cousa e, aliás, lembro de você quando penso nisso - "nissos". Lembro dos "cronópios" (somos cronópios, nós: os raros; somos sim, Julio Cortázar que bem o diga), lembro do que mais importa na existência que experimento, das excentricidades, das singularidades, das excepcionalidades ainda mais.
Sim ao excepcional, viva! o excepcional! E o cotidiano, que tanto o é! (se assim o encararmos).
E encaramos - eu, ao menos, tento cada vez mais.
Troquemos passos sobre menos "metas" - fins - e mais "caminhos", buscas encerradas e continuadas em si próprias. Lúcidos, tranquilos, vivos e atentos.
Está vivo? Viva bem, muito, bem muito. Se não quiser: não faça; No entanto, saiba o que não quer, saiba o que não faz. Atento. Lúcido.
Acordando cedo. Sentindo o feijão ser mastigado, engolido, sentindo o feijão alimentar, movimentar, criar movimento.
(Imperativo para mim próprio...)
"Fazendo" mais do que "imaginando"- dentro do possível, pois imaginar tem seu lugar reservado e grandioso, gracioso, sim: espetacular.

reticências...


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ps.: percebi que nunca tinha "escrito" (apesar de usarmos tanto na fala) a expressão: "ao léu".
pensei até se seria com "u" ou com "o". imaginei ser com "u" e com agudo no "é".
então vai o que a "rede" me disse:

léu

Significado de léu

m. Pop.
Nu; ócio; tuna.

(Do latin "levis")


Loc. adv.
Ao léu, sem chapéu; nuamente.

[Dicionário Candido de Figueiredo, 1913]


(achei interessantíssimo ser proveniente do Latin "levis", pois até imaginei ser uma expressão de raiz mais recente, próxima)








marcus.

domingo, 2 de agosto de 2009

Instruções para subir uma escada - Julio Cortázar

Instruções para subir uma escada - Julio Cortázar ("Histórias de Cronópios e Famas", 1962)

Ninguém terá deixado de observar que freqüentemente o chão se dobra de tal maneira que uma parte sobe em ângulo reto com o plano do chão, e logo a parte seguinte se coloca paralela a esse plano, para dar passagem a uma nova perpendicular, comportamento que se repete em espiral ou em linha quebrada até alturas extremamente variáveis. Abaixando-se e pondo a mão esquerda numa das partes verticais, e a direita na horizontal correspondente, fica-se na posse momentânea de um degrau ou de um escalão. Cada um desses degraus, formados, como se vê, por dois elementos, situa-se um pouco mais acima e mais adiante do anterior, princípio que dá sentido à escada, já que qualquer outra combinação produziria formas talvez mais bonitas ou pitorescas, mas incapazes de transportar as pessoas do térreo ao primeiro andar.

As escadas se sobem de frente, pois de costas ou de lado tornam-se particularmente incômodas. A atitude natural consiste em manter-se em pé, os braços dependurados sem esforço, a cabeça erguida, embora não tanto que os olhos deixem de ver os degraus imediatamente superiores ao que se está pisando, a respiração lenta e regular. Para subir uma escada começa-se por levantar aquela parte do corpo situada em baixo à direita, quase sempre envolvida em couro ou camurça e que salvo algumas exceções cabe exatamente no degrau. Colocando no primeiro degrau essa parte, que para simplificar chamaremos pé, recolhesse a parte correspondente do lado esquerdo (também chamada pé, mas que não se deve confundir com o pé já mencionado), e levando-a à altura do pé faz-se que ela continue até colocá-la no segundo degrau, com o que neste descansará o pé. (Os primeiros degraus são os mais difíceis, até se adquirir a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o pé e o pé torna difícil a explicação. Deve-se ter um cuidado especial em não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé.)

Chegando-se dessa maneira ao segundo degrau, será suficiente repetir alternadamente os movimentos até chegar ao fim da escada. Pode-se sair dela com facilidade, com um ligeiro golpe de calcanhar que a fixa em seu lugar, do qual não se moverá até o momento da descida.

Julio Cortázar