"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

melodia da vida em Beto Guedes

Gostaria de, em poucas palavras, traduzir o sopro de vida que percebo na melodia, na voz e nas palavras de Beto Guedes.
Gostaria de, apenas nesse comentário, deitar o foco sobre três canções que têm me tocado bastante.
A primeira chama-se "A página do relâmpago elétrico" e em certa altura diz:

"Não ter medo de nenhuma careta
Que pretende assustar
Encontrar o coração do planeta
E mandar parar
Pra dar um tempo de prestar atenção nas coisas
Fazer um minuto de paz
Um silêncio que ninguém esquece mais
Que nem ronco do trovão
Que eu lhe dou para guardar"

Bem, só me vêm à cabeça instantes de encontro com o fio de vida e de absurdo da existência que alcançamos em alguns momentos, como uma Ayahuasca da vida, ou um Psilocibe Cubensis... e não só aí... se formos sensíveis e lúcidos o suficiente para perceber e aprender a olhar o mundo com mais atenção, como Guedes diz acima, podemos chegar cada vez mais perto do que importa um tanto mais que as outras coisas, que é esse equilíbrio, essa homeostase....
Uma certa agonia, um fervilhar de movimento, vem por trás com os instrumentos, e a calma que abranda e propõe o paralelo vem com a voz e o timbre de Guedes.

Outra canção se chama "Nascente", e a beleza de simplicidade e poesia no que fala só não alcança a sua voz que propõe uma melodia que quase se transforma em brisa...

A canção que se chama "Lumiar" me deixa pensando sobre um mundo utópico e bucólico. Ao se escutar talvez o que digo faça sentido - ao menos se digo isso pra mim mesmo...

A página do relâmpago elétrico, http://www.youtube.com/watch?v=MTuzPMQ3ggg
Nascente, http://www.youtube.com/watch?v=pkvqXTpfjyI
Lumiar
, http://www.youtube.com/watch?v=Z_T5lN44Uq8


OBS:. Fazer atenção à duas coisas: uma, ao vídeo de A página do relâmpago elétrico, que obviamente não foi produzido por Guedes, e sim por alguém que pegou aquelas imagens e as uniu à música; outra, à qualidade e beleza absurdas que estão contidas nessas imagens, estou estupefacto, entorpecido com tal retrato da natureza...

considero que o melhor que tenho a fazer é ficar nas reticências (ou sair através delas) ...



Marcus de Barros.




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Lumiar
(Beto Guedes e Ronaldo Bastos)


Anda, vem jantar,
vem comer, vem beber, farrear
até chegar Lumiar
e depois deitar no sereno
só pra poder dormir e sonhar
pra passar a noite
caçando sapo, contando caso
de como deve ser Lumiar

Acordar, Lumiar, sem chorar,
sem falar, sem querer
acordar em lumiar
levantar e fazer café
só pra sair caçar e pescar
e passar o dia
moendo cana, caçando lua
clarear de vez Lumiar

Amor, Lumiar,
pra viver, pra gostar,
pra chover, pra tratar de vadiar
descançar os olhos, olhar e ver e respirar
só pra não ver o tempo passar
pra passar o tempo
até chover, até lembrar
de como deve ser Lumiar

Anda, vem cantar,
vem dormir, vem sonhar, pra viver
até chegar em Lumiar

Estender o sol na varanda até queimar
só pra não ter mais nada a perder
pra perder o medo, mudar de céu, mudar de ar
clarear de vez Lumiar

5 comentários:

Anônimo disse...

recomendo veementemente os cd's Clube da esquina nº1 e nº2.

Anônimo disse...

Nascente (Beto Guedes)

Clareia manhã
O sol vai esconder a clara estrela
Ardente, pérola do céu refletindo teus olhos
A luz do dia a contemplar seu corpo
Sedento, louco de prazer e desejos
Ardentes

Anônimo disse...

A página do relâmpago elétrico (Beto Guedes)

Abre a folha do livro
Que eu lhe dou para guardar
E desata o nó dos cinco sentidos
Para se soltar
Que nem o som clareia o céu nem é de manhã
E anda debaixo do chão
Mas avoa que nem asa de avião
Pra rolar e viver levando jeito
De seguir rolando
Que nem canção de amor no firmamento
Que alguém pegou no ar
E depois jogou no mar

Pra viver do outro lado da vida
E saber atravessar
Prosseguir viagem numa garrafa
Onde o mar levar
Que é a luz que vai tescer o motor da lenda
Cruzando o céu do sertão
E um cego canta até arrebentar
O sertão vai virar mar
O mar vai virar sertão
Não ter medo de nenhuma careta
Que pretende assustar
Encontrar o coração do planeta
E mandar parar
Pra dar um tempo de prestar atenção nas coisas
Fazer um minuto de paz
Um silêncio que ninguém esquece mais
Que nem ronco do trovão
Que eu lhe dou para guardar

A paixão é que nem cobra de vidro
E também pode quebrar
Faz o jogo e abre a folha do livro
Apresenta o ás
Pra renascer em cada pedaço que ficou
E o grande amor vai juntar
E é coisa que ninguém separa mais
Que nem ronco de trovão
Que eu lhe dou para guardar

Unknown disse...

Marquitos,

Sinto na música do Guedes a liberdade, simplicidade, a doçura, que por vezes falta.. como se dissesse “pra que complicar? Toma um banho, saia ao vento com os cabelos molhados, compre um sorvete, dobre esquinas, veja os amigos, ache um amor”. Percebo também a nostalgia de um tempo não muito distante, porém, mais voltado à apreciação dos sentimentos, da vida, natureza. Não sei se esse tempo está no passado ou no futuro, sinto que ele me escapa ao presente, e eu sempre estou a sua procura, tentando senti-lo verdadeira e pausadamente. Estar de peito aberto, leve, com vontade de amar, correr, sorrir, parar, olhar, sentir é como eu devo estar para conseguir conter o que me passa as letras e a melodia do Guedes. Este trecho é um dos preferidos.

“Você parece comigo
Nenhum senhor te acompanha
Você também se dá um beijo dá abrigo
Flor nas janelas da casa
Olho no seu inimigo
Você também se dá um beijo dá abrigo
Se dá um riso dá um tiro”

Bju,
Claudinha.

Alejandra disse...

...y aunque hasta ahora escucho este cantante,es claro que la profundidad de sus letras llegan a mi cabeza, haciéndome pensar y replantear sobre aquel papel que tengo frente al mundo. Como tú Marcus, quedé anonadada con el detalle de cada imagen en "A página do relâmpago elétrico", es increíble como el hombre pierde la oportunidad de admirar la complejidad y belleza de la naturaleza tan absurdamente perfecta por complicaciones con soluciones fáciles. Quedo sin palabras, pues mi descripción de tales imagenes nunca sería suficiente para dar el verdadero valor que ellas merecen...
Alejandra