Homenagem ao poeta Erickson Luna.
"Erickson Luna estava internado havia mais 30 dias no Hospital Otávio de Freitas. Era portador de pancreatite crônica. A doença foi diagnosticada quando ele sofreu uma queda e quebrou o fêmur. Aconselhado pelos médicos a abandonar a bebida, Luna foi categórico ao afirmar, segundo o amigo Ednaldo Possas, parceiro de mesa do Mercado da Boa Vista: Quem tem que comandar nossa vida é nossa cabeça, o corpo que se vire para ir atrás."
"O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria. Esta máxima do poeta inglês William Butler Yeats bem que poderia ser o epitáfio escrito na lápide de Erickson Luna. O poeta pernambucano, considerado por amigos geracionais e outros mais jovens como o “o último dos beatniks”, morreu na madrugada desta quinta-feira aos 49 anos." (excerto de texto escrito em abril de 2007 para o JC, quando da morte do poeta)
CANTO DE AMOR
E LAMA I
Choveu
e há lama em Santo Amaro
nas ruas
nas casas
vós contornais
eu não
a mim a lama não suja
em mim há lama não suja
eu sou a lama das chuvas
que caem em Santo Amaro
Vosso Scotch
pode me sujar por dentro
cachaça não
vosso perfume
pode me sujar por fora
suor nunca
porque sou suor
a cachaça e a lama
das chuvas que caem
em Santo Amaro das Salinas
"Luna era possuidor de uma sagacidade incrível. Tendo estudado direito e jornalismo, optou por ser poeta. Não um poeta qualquer, como esses poetas intelectualóides, vazios e medíocres que estão produzindo atualmente (salvo raras excessões…). Não, Luna tinha a poesia correndo nas suas veias, transpirava poesia, suas palavras cortam, possuem sangue.
“Teatro da Crueldade em pessoa, muito prazer.” Para além de Artaud, Luna encarnou em sua existência, em seu corpo, a abolição das metáforas (embora as tenha cunhado em versos, imprimiu-as em sua pele), tornando-se ele próprio um íntegro meio-homem, plenamente meio-mariposa. " (excerto de texto de André Raboni, no blog Acerto de Contas)ECCE HOMO
Saiam da minha frente
matem-se
morram-se
deixem livre
o meu campo de visão
Me entristece conceber
a semelhança que nos une na semente
quem é que pode
ser feliz se vendo gente
Portanto
saiam da minha frente
EPITÁFIO PARA UM
BUROCRATA
Faz da gravata
a forca
a fina veste
é tua mortalha
e teu birô
o teu esquife
Do gabinete ao túmulo
vade retro burocrata
http://www.interpoetica.com/erickson_luna.htm
http://acertodecontas.blog.br/atualidades/do-moco-e-do-bebado-luna/
http://pordetrasdamalhafina.blogspot.com/2007/04/erickson-luna.html
marcus.
profundamente identificado com a afirmação (título) de Luna (e com tanto mais):
”Quem tem que comandar nossa vida é nossa cabeça, o corpo que se vire para ir atrás”.
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