"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

domingo, 23 de agosto de 2009

Respostas-perguntas à postagem anterior

Minha pouca rapidez em comentar teu excerto de texto se deve à densidade que o mesmo carrega, propõe.
Muitos passam anos, envelhecem e morrem sem que sequer se passe pela cabeça tal pensamento acerca da linearidade do tempo ou algo parecido. Nem sequer pensam sobre o tempo, apenas pensam à partir da concepção comum dele: de que é linear e segue-se sobreposto por ele mesmo a cada segundo. Mesmo a noção de segundo e sua arbitrariedade não é sequer atingida como questionamento. "Quem definiu o tempo exato de um segundo que até hoje encaramo-lo como tal?"
Sei bem que se pode viver bem e tranquilo sem pensar em tais reentrâncias da existência, ou do pensamento; porém, para mim não é possivel não pensá-lo; é-me mesmo um inferno aceitar o tempo como querem todos sem pensar no pesar de tamanha arbitrariedade, sem pensar na possibilidade de encararmos tal, o tempo, como um labirinto, ou como um espiral - como falas - ou mesmo como um jogo de aleatoriedade. E para encará-lo de fato como tais "teorias", seja ela a do tempo circular, labiríntico ou outra, e trazer essa possibilidade para dentro do quarto, para dentro da cabeça e sair na praia à noite achando que de fato o tempo é distinto, destituído do cargo de linear, é um passo. Me sinto até lisonjeado - por sei lá o que, pelo pensamento, talvez - de conseguir sair das saias do tempo e subir acima dele para olhar o que há abaixo, acima e àquela altura.
Bem sei que escrevi bastante e não "disse" nada de novo, nada que atinja alguma conclusão e que o leitor diga: "meu deus, agora faz sentido!", bem sei que não cheguei nisso. E dificilmente chega-se. A questão é que meu intuito, minha vontade, não converge para chegar a uma conclusão. Quero mesmo é colocar perguntas. As respostas, quando consigo, as guardo e as transformo em novas perguntas. Assim nunca me sinto acabado, sem cartas na manga para uma nova cadeia de pensamento e um novo sentido à vida. Assim sinto-me respondendo a cada nova pergunta com outra pergunta. Assim sinto-me sentindo-me, e não respondido e dormente, como alguns - quase todos - querem-nos.

marcus.
Ago/2009

2 comentários:

Gilson disse...

Um dos passos da maturidade é afirmar que ninguem quer nada da gente.. somos donos de nós mesmos, inteiramente responsáveis (ou não) por nossos atos. Pouco adiante querer culpar ninguem por nossas próprias tomadas.

Rodrigo de Morais disse...

100 cartas na manga para uma nova cadeia de pensamento e um novo sentido à vida.