"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Quando o Desejo é Gritar

Palavras, cores, sons, inexoravelmente ampliados ao estado de espírito do tudo ou nada, fluindo da mesma fonte, mesma origem. Do mesmo poço de tormento e êxtase que me trouxe a vida e tudo o que nela se possa encontrar. Estou aqui para ser um com aquilo que nome não se pode dar, Estou aqui para abstrair deus nas coisas, deus em mim. Estou aqui para ser o nada feito tudo, feito tudo, feito tuuuuudo. É o roçar do arco nas cordas de um cello, de um contrabaixo, até mesmo de um violino, aquela sonoridade aveludada, da textura da seda, do cobertor, da gota d’água que desliza em minha garganta seca. Tudo o mesmo, o mesmo tudo. Sou hoje um par de olhos, lentamente a piscar. Eles se abrem, se fecham, e sem pressa voltam a se abrir novamente. A luz que perfura minhas retinas aos poucos vai dando espaço ao silêncio visual, e o que os olhos vêem a mente recria, com direito a narrativas e distorções, eis que eu começo a sonhar e sonhando penso estar acordado, mas não.

E as horas se fazem minutos, os minutos se fazem dias e todos eles se põem a escorrer por dentro de minhas narinas, coriza temporal com direito a um lencinho de bolso. Começo então a assoar aquelas pequenas estruturas mesuráveis denominadas relógios, que prepotência de vossas partes em graduar tão friamente o transcorrer de uma dimensão. Meu córtex estupefato melhor aprecia seu estado de teia, mosquiteiro, de rede de pescador, translúcido ao fluxo de uma quase atemporalidade, o agora... Não, não, eu quero dizer O AGORA! Existiria um infinitésimo instante mais atemporal do que... o AGORA? Mal chegou já partiu, já disse adeus e foi embora. Afinal quanto tempo dura esse agora? Hum, parece-me que o agora é tudo o que de fato existe... Eventos passados e a antecipação do que há por vir, isso quem dá forma somos nós... Nós os intangiveis, completos incompletos quando, de fato, a vida está aqui sendo exatamente o que ela é.. e ela É. Tamanha esta sombra, esta luz, sinto-me como um barco sem vela desejando por mais vento, ou até mesmo um micofone, consciente de sua própria voz, se pondo a microfonar.
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Gilson

2 comentários:

Rodrigo de Morais disse...

Sujeitos do mundo, mas dentro de mim.

Dentro de mim estão todos estes.
Respiro-os.
bebo-os.
Eles me inspiram.

Dentro desse azul, eu e estes, habitamos uma esfera de chegadas e partidas;
gracejos;
saudades:
Eles vizinho a um pensamento meu, os contemplo em todo não-tempo.

E dentro de seus quartos, estes são para todos os seres, ocultos, mas em aurora. Para
olhos atentos e curiosos a quem vive ardendo -em arte-.
Morrendo, a cada noite.
Nascendo, a cada céu.
Revirando-se em pinturas, leituras, e notas.

Dentro de mim e de mim para o mundo, em troféu arranha-céus, como obeliscos exóticos, como amantes e réus, Estes compõem em minh'alma um sentimento oceânico que perdi na estrada, que abandonei-o ao léu.

Somos trocas de afagos.
somos "silêncios" agitados.
Meus amados perdidos, meus achados escondidos...

Rodrigo.

Gilson disse...

Lindo poema, Rodrigo. A mensagem que tentava passar está bem captada ai.