"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

saramago, "morri", "ressuscitei" nove horas depois.

Um ano depois


Dezembro 24, 2008 by José Saramago


“Morri” na noite de 22 de Dezembro de 2007, às quatro horas da madrugada, para “ressuscitar” só nove horas depois. Um colapso orgânico total, uma paragem das funções do corpo, levaram-me ao último limiar da vida, lá onde já é tarde de mais para despedidas. Não recordo nada. Pilar estava ali, estava também Maria, minha cunhada, uma e outra diante de um corpo inerte, abandonado de todas as forças e donde o espírito parecia ter-se ausentado, que mais tinha já de irremediável cadáver que de ser vivente. São elas que me contam hoje o que foram aquelas horas. Ana, a minha neta, chegou na tarde do mesmo dia, Violante no seguinte. O pai e avô ainda era como a pálida chama de uma vela que ameaçasse extinguir-se ao sopro da sua própria respiração. Soube depois que o meu corpo seria exposto na biblioteca, rodeado de livros e, digamo-lo assim, outras flores. Escapei. Um ano de recuperação, lenta, lentíssima como me avisaram os médicos que teria de ser, devolveu-me a saúde, a energia, a agilidade do pensamento, devolveu-me também esse remédio universal que é o trabalho. Em direcção, não à morte, mas à vida, fiz a minha própria “Viagem do Elefante”, e aqui estou. Para vos servir.






texto extraído do "caderno de saramago" (http://caderno.josesaramago.org), postagem do dia de hoje.
fiquei impressionado com os fatos, com a maneira que os comunicou e também com a velocidade de informação da internet, com tudo.
ultimamente tenho percebido o absurdo das coisas de maneira mais profunda, mais constante.
o absurdo que é estar vivo, pensar, perceber o absurdo.
tudo.
tudo já não é nada, pelo contrário, é tanto, é tanto tudo.
e é demasiado absurdo, e o quero. o busco. o encontro. o vivo.
absurdos não são mais tratados como absurdos, e sim como o que simplesmente "é".
saramago parece sentir o mesmo.







marcus.
no absurdo.

Um comentário:

Gilson disse...

escrevestes um tanto do que ando a pensar. Impressionante marcus.