terça-feira, 28 de agosto de 2007
Blá Blá Blá "!@#$%¨&*()_+}
The Broken-mirror of i...
A Lenda da Cadeira sem o eu
na escrita do hoje
atemporal...
Eu não sei de nada, fico rindo me olhando pensar em escrever, e agora me sinto ainda menor. Cada vez que tenho uma brecha para fitar as artes compostas por meus parceiros, o que provem da música junto em ressalto a sétima arte, é como se saísse da caverna do meu corpo, visse tudo que faço, sacar-se o que rodeia. Minha sorte é que me divirto comigo mesmo, meus pensamentos, meu humor escuro de zombar de quando penso que sou pequeno ou de quando me vejo útil, é como se falasse: “não importa o quanto você tente se apagar, amigo, teu reflexo já é algo do interior para fora dos olhos de outros grãos andantes”.
Já quis apagar-me diante do espelho, quebrei o espelho, lá estava eu esmiuçado, ridículo.
Bernardo Bertolucci! Bernardo Bertolucci é cinema! Às vezes eu penso que ele nem existe (pra ridicularizar minha exaltação), e diante de suas películas me sinto ser seus olhos, porque eu só absorvo o tempo todo, e ganho pagando tão pouco pelo sentimento ( son of a bitch!), e eu sou um da platéia com sabor exótico na boca, o sabor da contemplação, eu sou a boca de LUCY e sua personalidade, meu deus! O que compõe a conjuntura daquela performance é meu eu feminino, paralelo pode-se postar um quadro pintado dos rumores frenéticos do interior do cosmo Gilson (ser vagante. às vezes eu sinto que enquanto eu estou num “pasto” fazendo coisas, chorando, sorrindo, rompendo, ele está na mesma posição em outra intensidade como coisas que podiam ser paralelas na mesma direção, direção alguma, somente se empurrando desde o nascimento, a gente atravessa as ruas por causa do primeiro impulso que “diz”: -agora tu começas e não parará jamais) .
Thom Yorke compõe trilha de pensamentos que não seriam possíveis sem sua melodia, penso eu, faço inferências com isso atirando pra todo lado com a boca, como charlie kaufman personagem de Nicolas Cage em Adaptation. Dessa existência eu pretendo ser algo que provoque sorrisos; da graça, de graça, do ridículo, da timidez, do êxtase, do absurdo, para que todos voltem para mim sem que eu perceba. Depois de tanto tempo, e percebendo a mudança constante na demais existências, descobri que amar uma mulher é um êxtase, meus caros, para mim, um êxtase (em uma unidade mais)! Nenhuma mulher como concebo deixa-se como estou, voltado para uma condução de si bem sentida, desde a pele numa visão rotatória e penetrante em outros as esquinas, nenhuma mulher transfere para dentro o baú de destroços fragmentados, límpidos como o cinema. Nenhum cinema substitui o calor de um abraço almejante, e nenhuma solidão composta pela imaginação constitui tal percepção em tal intensidade. É o papo de dizer que um é melhor que outro, na idiotice de esquecer de enxergar que substituição só existe pelo que concebemos como seres humanos, e o que mais é o mesmo? Duas árvores da mesma espécie não compõem a mesma estética ao pé e traços por mais minúsculos que aparentem. Não caia nas minhas certezas, se eu sou o que mais rejeita axiomas e retóricas! Escrevo compulsivamente rumores, falácias. Eu outro dia pensei que ao colocar fones e aumentar o volume eu estava projetando mais uma vez meus receios e hostilidade à mão que afaga meu coração, a dona música, e ao rotular vestígios e traços de uma certa patologia quase me espanco no segundo posterior pra ver o sangue do meu ridículo. Antes de qualquer coisa sou nascimento e movimento (posteriormente algo que se diz por instinto nesta expressão), depois do manuseio pela conduta, do C.I.S (centro da interação por socialização) sou qualquer merda que faz leitura e entendimentos duvidosos. Necessários quando preciso de um traje um cenário e uma atuação para sobrevivência superficial. Não quero escrever mais nada...
... I can see the sunset over me!
domingo, 26 de agosto de 2007
Uma Unidade Mais
Juliano
(nome: conjunto de letras, rabiscos) %$&I%Ö#PG
Atuando sobre a existência, ser algo que vai para outro..., A todo instante ser aleatório, sentir o calor que pelas palavras traz ou desconforto ou o ridículo. Conter-se é ser como não se é (em essência), agora se sente o que não pudera imaginar, somente sentir pela mão ato de quem escorregou das certezas absolutas e trouxe o que forma não tem, mas o que há é o impacto da forma como é tudo que existe o tempo todo e você nunca esteve dentro. Entenda como um som sem sentido (sem sentido denominado), sem as alusões do mundo/razão, seria um esforço apalpar a face do outro lado de fora do habitar das classificações? Acaracterizado não existe; há razão por tudo ser o que se compreende agora, (é esta uma a mais.) foi à indução do ser no esboço forjado para um determinismo arquétipo. Pode-se também tentar ridicularizar; a sensação que estas 13 palavras constrói agora é o que se expressa como "unidade simplória" que todos percebem sobre todos, seria um esforço querer dizer que o que há como forma que não se entende é tão natural quanto alguma palavra legível. A classificação que faz desta representação agora não pode ser uma unidade apenas, e sim uma unidade mais. Aclassificação existe em essência; em essência somos sim seres padecentes, em essência somos qualquer coisa a mais, qualquer coisa outra, e nossa condição (do agora) é apenas uma unidade mais. Adenominação existe em essência; -teu nome, meu nome, palavras são padrões e em conjunto, razão, e toda forma todo conjunto é o que é só por assim admitir-se e assim dizer. Outra coisa também o é, outra coisa que não é o que se aprendeu, outra coisa que torna esta condição uma unidade mais. A vida não se permite em uma condição apenas, e se assim se permite o ser existir por haver apenas ordem, controle, entendimento, é medíocre. Se tua vida é uma unidade apenas, és medíocre para com, se te ofendes porque te chamo por medíocre, acabas como um (vil) pobre para vislumbres. Se, tentando esmiuçar sou desordem, caos é o que jaz aqui, e se nada para ti sou, se sou pobre, se sou louco, se sou astuto como um perdido, te digo agora que sou uma unidade mais oferecendo a mão para um possível abraço.-
%$&I%Ö#PG
domingo, 19 de agosto de 2007
2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick
(1968)
Lá pelo meio de 2001 – Uma Odisséia no Espaço, filme clássico do genial Stanley Kubrick, em meio ao prenúncio de desespero que a seguir se faria presente a bordo da nave, o que chama a atenção é a candura sussurrante da voz de Hal. O som sugere mais do que o próprio desenrolar das imagens: não é uma voz metalizada – mais parece mentalizada, com o timbre conclamando ou sugerindo uma calma e repouso sem tempo de duração. A narração original, da voz de Hal, sugere um apaziguamento demasiado, como se dissesse ao nosso inconsciente: “— calma, você irá morrer, mas será muito calmamente”. E como se ainda fosse consolar: “— vai morrer dormindo, como no sonho de todo humano – sem dor”.
Não há ira na morte, apenas seremos substituídos. Não há vingança, só o aceno de que a substituição pelo mecanismo é irreversível, irremediável: “o melhor é morrer mesmo”; ou melhor, “você está quase dormindo, em vigília, irá morrer ou está morrendo aos poucos, conforme aceite o sono da morte”.
É sugestivo que ao final do filme a cena seja a de um astronauta (aparentemente barbado, desgrenhado), quase levitando, formando imagens que se fundem em sua inconsciência, surgindo idéias em bolhas, fugidias, perdidas, desregradas, desprendidas: “como se sem as máquinas, sem os mecanismos, a mecânica e a técnica, só restasse o devaneio”. E nisso a profecia de Hal irá se cumprir: “não me desligue porque você irá morrer; mas, se não desligar, também não estará morto?”.
Talvez o que se perca com Hal seja nossa inocência, pureza de sentidos, ingenuidade em crer num mundo em que nossas próprias criações sejam sempre boas, como se o humano fosse sempre bem-vindo. Hal é a supermáquina do bem, a que provém de tudo a todos, mas que se transforma em máquina de guerra. A nossa própria guerra interior, oscilando entre o bem e o mal: “Hal é nosso mais bem acabado sonho de grandeza”. E por isso mesmo é capaz de revelar a maior pequenez: “todo sonho de conquista é pequeno em essência, porque não gera nada, não cria, não adiciona, apenas adere, adquire, anexa”. É a soma-zero de que já falava Maquiavel.
A inteligência coletiva é a nossa 2ª pele, sim, como toda a informática. Mas também é o desencantamento do mundo de que falava Weber: a vida, as histórias, jamais seriam as mesmas depois da descoberta do monolito (no filme) e depois da descoberta da técnica na vida dos primatas (há um milhão de anos).
Não é o macaco quem inventa a pedra lascada e depois a polida. No longo curso da história dos hominídios, são o Homo Erectus, o Homem de Neandertal e, por fim, o Homo sapiens, quem seleciona, promove e implementa essa reconhecida inteligência tecnológica de um milhão de anos, ou seja, a mesma idade de Hal. O monolito negro também simboliza o uso da pedra como artefato, instrumento, meio ou prolongamento dos sentidos humanos (um martelo está para a mão cerrada, como a mão espalmada sugere um golpe de faca, pérfuro-cortante).
Hal é princípio e fim. É o modelo cibernético, o guia e a direção que ainda nos acompanha. Hal não é farol, porque não ilumina; apenas indica. Hal é a tecnologia política, sem pólo positivo ou negativo, é o bem que provoca o mal, porque já o traz dentro de si: se fosse unilateral a coisa mudaria de figura e, apesar de não me parecer que seja esse o caso, as pessoas são livres para entender de outra forma.
Hal é um elo que sempre nos ata, arrasta direto ao passado que também não era, nunca foi, idílico. Por isso, não é maniqueísta, estando para além do certo e errado, nem simplista (se fiz isso, vai dar naquilo) e muito menos idealista (a inteligência artificial é nosso futuro ou já é presente). Também não é superficial: “quem quer ser um Hal ou tê-lo por perto?”.
Mas, ao contrário de nosso homem-macaco - do período do monolito e anterior, portanto, ao neolítico - Hal não é suficientemente social, não foi criado para a interação, para o grupo, para partilhar qualquer coisa que seja, simplesmente porque não é solidário. O que sugere essa afirmação é o fato de se terem encontrado esqueletos de hominídeos com múltiplas fraturas – sugerindo, assim, que havia ajuda mútua no tratamento e na recuperação dos enfermos e acidentados. Pois, de outra forma, é óbvio, não teriam sobrevivido.
Não fosse pela voz suavizada, aveludada, Hal não seria antropomórfico (a nossa imagem e semelhança, como o Robô, de Perdidos no Espaço), porque a sonolência é a mesma que nossa mãe ou avó nos proporcionava quando bebês. De outra forma, no entanto, Hal é antropomórfico: “porque é vida e morte, nosso ciclo perpétuo, nossa consciência de incompletude, nossa fraqueza de espírito – desejo infinito de posse e propriedade -, porque como os únicos animais sabedores da morte, somos incapazes de detê-lo”. E Hal sempre estará aí para nos lembrar disso tudo - a nós, animais fracos e imperfeitos, diante da lógica matemática e simétrica da linguagem das máquinas.
Hal não é inteligência artificial, é a inteligência tecnológica, do passado para o fututo e vice-versa: “somos nós e, por isso, não pode ser artificial. É real: do monolito à rede mundial dos computadores”. Ou será que o monolito é a rede, a web de que falamos hoje? Uma consciência cósmica ou espécie de esforço sideral?
Um esforço sideral capaz de reunir as forças cósmicas espalhadas pelo universo iria além da força cinética, entre os astros. Assim, se religado, Hal será obediente às forças siderais, será capaz de desvendá-las para ele mesmo? E para nós, que surpresas traria ao nosso conhecimento se estivesse ao deus dará ou sob seu próprio comando no infinito labirinto do cosmo?
Então, por que Hal? Certamente, um questionamento que deve ir além das inscrições IBM.
Hal é pergunta ou afirmação?
Se interroga, fá-lo a nós: “— por que fui criado?”.
De nossa parte, deveríamos perguntar a nós mesmos: “— por que o criamos?”.
Ou faz a si mesmo: “— o que farei depois de derrotar os humanos, serei mais humano do que antes, do que eles próprios?”.
Assim, se ele se afirma, ele nos nega? Se Hal é nossa negação, é porque deveria ter outra proposta - mas qual será? O que fará depois de nossa aniquilação?
Afinal, a negação (Hal) da negação (nós), supõe alguma afirmação. Mas não se tem isso no filme. Daí, posso concluir que o filme não é dialético, mas linear, ainda que não seja maniqueísta?
Outros dirão, de maneira oposta, simplesmente que isso não é suficiente pra dizer que ele não é dialético, porque: 1) se há negação dialética, então há afirmação; 2) mas em outra perspectiva, se nós somos a afirmação, Hal é a nossa negação (porque não é exatamente a nossa superação) - e a negação da negação estaria na instância da recepção, que é o espectador do filme. Sinceramente, não sei se devemos pensar dessa forma, mas também não sei se não devemos.
Enfim, ainda seguindo essa linha de abordagem, primeiro, Hal não sugere vingança (alego a sua legítima defesa, ante o fato de ser desligado e negado pelos humanos): a) em parte porque não teria empregado a exata simetria entre ação e reação; b) mas sobretudo porque não é perverso e, para tanto, basta relembrarmos de algumas máximas maquiavélicas - tipo: “matar todos os inimigos de uma única vez, em praça pública” - ou mesmo lembrar que seu antecessor Vlad – O Empalador, um príncipe romeno, inspirou a lenda do famigerado Conde Drácula. Para Hal, entretanto, a morte deve ser silenciosa, um susssuro, um sopro final rumo ao infinito universal... (os astronautas são despejados da nave, ficando à deriva silenciosa, sob o olhar complacente do diretor).
Nisso, Hal seria humano demais, um turbilhão entre o bem e o mal? Outros dirão que não se trata do super-humano, alegando que se Hal não tem corpo, também não tem alma. De fato, Hal apresenta-se apenas como um olho vermelho, observador de tudo, inflexível e vigilante: uma metáfora do olho mágico que nos espreita em todas as portas, canais de TV internos, e está postado em todos os giroflex dos carros de segurança. Mais precisamente, a alma, aqui entendida, é essa área cinzenta entre a benevolência, compaixão, piedade ou crueldade, violência, incapacidade de perdão. No entanto, essa não poderia ser uma definição de poder ou ganância, temas tão caros aos homens?
Comparado a Blade Runner, por exemplo, neste a morte surge como uma inevitabilidade, pois o replicante não se vinga do criador, não o mata por prazer, mas por perceber definitivamente que nunca será inteiro, integral, íntegro em sua consciência de humano. Se fosse mero ato de vingança, ainda teria diante de si uma escolha: vingar-se, matando, ou não. Com a morte do criador, o replicante termina seu próprio ciclo de vida. O que, portanto, não é um basta.
Ainda pensando de acordo com a trilha iniciada, que Hal não é dialético, a leitura possível seria somente a psicológica? Se sim, onde estará a poesia da sétima arte? É mera antecipação de Matrix? Mas, e a história não poderá revelar algum outro significado? O que se tinha no momento histórico em que se filmava e produzia 2001? Estava em gestação (ou ainda se gesta) um tipo qualquer de Teoria Informática Conspirativa?
A sensação de suspensão do tempo, certa lentidão e passividade, com que o filme se desenrola não será à toa. Como se o espaço sideral, por um lado, sugerisse a perda dos sentidos e significados (nada menos dialético). E visto por outra dimensão, como se indicasse a própria dinâmica da história, da passagem da humanidade sobre a Terra, uma passagem lenta, gradual e insegura ou lenta, afirmativa, com poucos ou alguns rompantes: das Revoluções Industriais, seculares, do século XVIII ao XX, à ruptura e reconstituição da estrutura da matéria feita em O Exterminador do Futuro, com as ligas de metal mimético, interativo, e que também lembra os fractais em ebulição. De todo modo, trata-se do curso da vida humana: destrutivo, lento, vagaroso, maçante. Porém, sempre constante, incontrolável, inseguro e sem certezas. Simplesmente porque há mais perguntas do que respostas na história, no curso da humanidade, como também no filme.
Para mim, é um filme custoso, chato de ver, rever, assistir. Nele, a dinâmica é substituída por essa espécie de estática – nada pior do que supor que há um curso para o fim, e de um fim em que não há promessa de recomeço. O fim do filme sugere só o delírio do astronauta, o nosso mesmo.
Não há, assim, um fim possível? Se seguisse Deleuze, citado por Pierre Lévy, quando descreve o virtual, a única resposta é um não sonoro. Nosso futuro, nessa linha, bem como o passado e o presente, não passaram de um possível, da mera possibilidade sem força para se realizar, instrumentalizar.
Mas só há esse possível, essa possibilidade? O filme sugere que sim, um futuro de possíveis, isto é, sem nada de significativo, sem significantes e atuantes. Não há, portanto, um futuro virtual, uma promessa de vida que nos magnetize, energize e simbolize um devir-ser. Não é nem o dever-ser, quanto mais o devir-ser: esse nós de outra forma, rearranjados, recompostos. É a solidão sem arranjos ou compostos. Será apenas um sonho decomposto? Será que é chegado o tempo em que os opostos se equipararam tanto a
Vamos escolher outro filme para nós mesmos?
Ao contrário do que parece, Hal não é a história cronológica, é a característica da invenção técnica, portanto, sempre presente, é o vai-e-vêm. Hal é só um estágio, para o bem e para o mal. É estágio de nossa vida.
Meu nome, nosso nome, é Hal.
E sendo assim, podemos perguntar, por fim: “— o que você quer, Hal?”.
Quem é, o que quer, de onde veio, nós sabemos, mas o que ele quer, não...
Hal, realmente, tem-me feito pensar se sou uma pessoa inteligente, se há alguma inteligência nisso tudo e, se houver, de que tipo de raciocínio, lógica, capacidade intelectiva, produtiva, criativa estamos falando ou, então, se há algo que nos interessaria mais de perto.
Hoje, porém, não me socorro do próprio Hal, não vou pedir sua ajuda (só vou digitar, novamente, como único recurso emprestado), pois prefiro pensar sozinho e tecer por conta própria minhas próprias idéias – se bem que não exatamente minhas, porque são idéias que se articulam e se entrelaçam (alinhando-se e desalinhando-se) numa rede que nem sabemos direito como é que existe.
Por hora, vou só, e ainda que venha a convidar a muitos outros para ao menos saber do trajeto e da bagagem que deveríamos levar para uma viagem como essas. Mas, será que alguém se interessa pelo roteiro dessa nossa nova viagem? Sei lá, arrisco-me a contar o trajeto e mais tarde verificar se mais alguém embarca junto (penso que não é canoa furada) – afinal: navegar é preciso (é urgente e mesmo que nem sempre tão correto assim).
é professor da UNIVEM – Universidade Eurípides de Marilia
e Doutor em Educação pela USP
(2004)
sábado, 18 de agosto de 2007
Bolha de percepção
li teus textos dos dias 14 e 17 de agosto, e comecei fazendo um comentário acerca do que havia acabado de ler e, consequentemente, de conjecturar sobre. Só que o comentário começou a crescer, crescer, e transformou-se em um texto, que resolvi postar, porém, a título de comentário.
"Creio que existem várias classes de "momentos" para serem vividos por nós, porém quero descrever aqui duas dessas classes, sobre as quais eu passo minha humilde vida variando entre uma e outra. Vou tentar esclarecer meus pensamentos a respeito.
O primeiro desses "momentos" aos quais me refiro é bem exemplificado por aquelas horas íntimas em que estamos no nosso próprio quarto, lendo um livro que deveras nos interessa, repleto de "ensinamentos" acerca de como perceber o mundo externo e interno a nós (metaforizado ou não), sejam esses "ensinamentos" vindos em forma de poesia, relatos, romance, etc.; ou então naquelas outras ocasiões onde conversamos com nossos queridos amigos sobre o que entendemos do mundo "lá fora" e "aqui dentro". (Essas ocasiões onde conversamos com os mais chegados pode até estar em uma classe intermediária de "momentos", entre a primeira e a segunda). Com esses momentos (que, claro, não se resumem a livros, filmes, conversas, ou apenas pensamentos) nos preparamos e buscamos entender o que está dentro de nós, embora nunca alcancemos a totalidade dessa compreensão.
Já, o segundo dos "momentos" pode ser bem representado por ocasiões em que nos vemos em meio a um evento social, por exemplo, ou em uma grande festa de família, ou até no meio da rua. Essas ocasiões exigem que nos portemos de modo a mostrar quem somos exteriormente. As pessoas que nelas se encontram, na maioria, nos julgam pelo que aparentamos ser, embora as mais sensíveis nos percebam pelos nossos olhares ou gestos (o que fala uma linguagem bem mais próxima do que realmente somos). Enquanto estamos percebendo os outros, os outros nos percebem. E nessa troca de percepções nos descobrimos ao passo que descobrimos também o diferente. Não adianta ficar fechado em uma bolha de individualidade onde a única lei de interpretação do mundo é a sua própria, há de haver algo sempre novo, sempre um aprendizado, sempre uma mudança. Assim vamos lapidando a nós mesmos, assim vamos conhecendo a nós a aos diferentes, assim vamos olhando e "vendo", ao invés de criar uma imagem bem distante daquilo a que se olha, ao invés de ficar criando um mundo próprio dentro de uma bolha e esquecer que se pode crescer.
Eu gozo no meu mundo, gozo quando estou na minha bolha. Mas também tento gozar ao sair dela, também tento gozar ao perceber as bolhas alheias.
Talvez precisemos nos preparar para algum dia estourar a bolha, rasgar a bolha. Ou melhor, tornar ela difusa, ao ponto de estar entranhada mesmo na existência de todas as outras coisas exteriores a nós. Fazendo com que nós (cada Eu) estejamos fazendo parte de uma unidade maior que nossa individualidade forçada e mesquinha, fazendo com que nos tornemos menores e maiores ao mesmo tempo. Vale salientar que não precisamos invadir, de maneira alguma, as bolhas alheias. O que precisamos é enxergar que essa bolha na qual estamos ofusca nossa percepção do mundo como um todo, que nossa percepção pode se estender bastante, que a maneira à qual estamos habituados a viver e a ver o mundo é que ofusca essa percepção, é que nos tolhe."
Marcus T.
A Carlos Drummond de Andrade
João Cabral de Melo Neto
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
(Foto: Gravatá hoje. - Marcus T.)
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Copo Vazio
(Foto: Piano do Vô - Marcus T.)
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar
É sempre bom lembrar, guardar de cor
Que o ar vazio
de um rosto sombrio
Está cheio de dor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
Que o ar no copo
Ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade
A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia
Uma metade vazia
Uma metade tristeza
Uma metade alegria
A magia da verdade inteira
Todo-poderoso amor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
(Gilberto Gil, Copo Vazio)
... Do que houve
Veio outro. Veio até minha porta, veio ele, e me disse para sair.
Saio eu, entra ele, eu apenas observo, não sou seu servo, ele eu sou (a rodovia de si).
Muda os padrões, pontos de vista descartáveis, e tudo muda para sempre, a escolha me permite unicamente reparar o decorrer até que se consuma. Jogo uma perna, lanço a outra, movo os membros, percebo as idéias, interfiro com as idéias e o corpo imóvel, sou invisível, rápido, como não pude eu perceber antes? Eu volto para dentro, calmo vejo tudo tão rápido, para a esquerda vejo a imagem central, existência circular, sou a mesma imagem sempre se desfigurando no absurdo abstrato de minha percepção “ambígua” da existência. Sou vibração, afeto (o meio), na continuação, sou a constituição das emoções desordenadas. Vejo o horizonte estou para dentro e fora, que distância entre duas percepções! Quando acordo, vivi um sonho sobre sensações decoradas nunca sentidas, o beijo o sorriso a lágrima (o sexo). Veio ela, ela se foi, ela é tão bela eu não entendi (nem me era para ser) sua chegada e partida, eu a beijei, eu abracei, ela foi embora, nua, eu voltei a dormir (ou construir?), ela canta, ela é várias eu sou vários, perpassa minha existência e eu nada sou. De seus olhos aos meus era a extensão do idílio, eu nada controlo, nem minha vida dormente. Sonhei que eu tanto podia, até morrer. Nunca há precisão, são percursos, talvez rumores dos desejos, é vida, foi algo, quando se lembra (vigorosamente) é quase memória do que não foi. É confusão, que bom então. Não há razão; onde está o perigo de cá, porque do lado de lá... Vai, e nada procura (!) que tudo vem. Ah!
Catalisador
sábado, 11 de agosto de 2007
Porta Para o Infinito
"(...) Tentei levantar-me e fui preso da mais absurda distorção sensorial. EU não tinha controle sobre meu corpo; na verdade, meu corpo nem parecia me pertencer. Era inerte; eu não tinha ligação com nenhuma de suas partes e, quando tentei levantar-me, não consegui mexer os braços e fiquei me contorcendo indefeso, de barriga para baixo, rolando de lado. O impulso de minhas contorções quase me fez dar uma volta completa, tornando a ficar de bruços. Meus braços e pernas esticados me impediam de virar-me e fui parar de costas. Nessa posição, vi de relance duas pernas de forma estranha e os pés mais distorcidos que jamais vira. Era o meu corpo! Eu parecia estar envolto numa túnica. A idéia que me veio à mente foi que eu estava experimentando uma cena de mim mesmo como aleijado ou inválido. Tentei curvar as costas e olhar para minhas pernas, mas só conseguia sacudir o corpo. Estava olhando para um céu amarelo, um céu de um amarelo-limão, forte e profundo. Ele tinha fendas ou canais de um tom amarelo mais profundo e uma porção de protuberâncias penduradas como pingos de água. O efeito total daquele céu incrível era arrasador. Eu não conseguia saber se as protuberâncias eram nuvens. Havia ainda zonas de sombras e zonas de diferentes tons de amarelo, que fui descobrindo ao mexer a cabeça de um lado para o outro.
Aí alguma outra coisa atraiu a minha atenção: um sol no zênite mesmo do céu amarelo, bem sobre minha cabeça, um sol fraco - a julgar pelo fato de eu poder olhar para dentro dele - que lançava uma luz calmante, branca e uniforme.
Antes de ter tempo de ponderar sobre todas essas visões extraterrenas, fui violentamente sacudido; minha cabeça pulava para diante e para trás. Senti que estava sendo erguido. Ouvi uma voz estridente e risadas e defrontei-me com um espetáculo realmente espantoso: uma mulher gigantesca, descalça. A cara dela era redonda e enorme. Seus cabelos negros estavam cortados no estilo pajem. Tinha braços e pernas gigantescos. Pegou-me e levantou-me, pondo-me em seus ombros, como se eu fosse um boneco. Meu corpo estava flácido. Olhei pelas costas dela. Tinha uma penugem fina em volta dos ombros e pela espinha abaixo. Olhando para baixo, dos ombros dela, tornei a ver aquele chão maravilhoso. Eu o ouvia ceder, elástico, sob o peso imenso dela e via as marcas de pressão que seus pés deixavam nele.
Ela me largou de bruços defronte de uma estrutura, uma espécie de prédio. Aí notei que havia algo de errado com a minha percepção de profundidade. Não consegui avaliar o tamanho do prédio, olhando pra ele. Em certos momentos, parecia ridiculamente pequeno, mas depois que eu, aparentemente, ajustei minha percepção, fiquei realmente maravilhado com suas propoções monumentais.
A moça gigantesca sentou-se a meu lado e fez o chão ranger. Estava encostado a seu joelho imenso. Ela cheirava a bala ou morangos. Falou comigo e eu entendi o que ela disse; apontando para a estrutura, ela me afirmou que eu ia morar ali.
Meus poderes de observação pareceram aumentar, quando venci o choque inicial de me encontrar naquele local. Reparei então que o prédio tinha quatro lindas colunas não funcionais. Nada sustentavam; estavam em cima do prédio. Sua forma era a simplicidade total; eram projeções longas e graciosas, que pareciam se estar estendendo até aquele céu assombroso, incrivelmente amarelo. O efeito daquelas colunas invertidas era de pura beleza para mim. Tive um acesso de êxtase estético.
As colunas pareciam ter sido feitas de um só bloco; eu não podia nem conceber como. As duas colunas da frente estavam ligadas por uma trave fina, uma barra de comprimento monumental, que, pensei, podia ter servido como parapeito ou varanda.
A moça gigantesca me fez deslizar de costas para dentro da estrutura. O telhado era negro e plano, coberto de furos simétricos, que deixavam passar o brilho amarelado do céu, criando os desenhos mais complicados. Fiquei realmente assombrado com a completa simplicidade e beleza alcançadas por aqueles pingos de céu amarelo aparecendo por aqueles furos preciosos no telhado e os desenhos de sombras que eles criavam naquele chão magnífico e complicado. A estrutura era quadrada e, fora de sua beleza tocante, ela me era incompreensível.
Meu estado de exaltação era tão intenso naquele momento que tive vontade de chorar, ou de ficar ali para sempre. Mas alguma força, ou tensão, ou algo de indefinível começou a me puxar. De repente, vi que estava do lado de fora da estrutura, ainda deitado de costas. A moça gigantesca se encontrava lá, mas com ela havia outra criatura, uma mulher tão grande que chegava até o céu e tapava o sol. Comparada com ela, a moça gigantesca não era mais que uma menininha. A mulher grande estava zangada; agarrou a estrutura por uma de suas colunas, levantou-a, cirou-a de pernas para o ar e largou-a no chão. Era uma cadeira!
Aquela percepção foi catalisadora; desencadeou percepções arrasadoras. Passei por uma série de imagens desconexas, mas que podiam figurar como uma sequência. Em lampejos sucessivos, vi ou percebi que o piso magnífico e incompreensível era uma esteira de palha; o céu amarelo era o teto de estuque de um quarto; o sol, uma lâmpada; a estrutura que provocara tal êxtase em mim era uma cadeira que uma criança virara de pernas para o ar para brincar. (...)"
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Entorpecido por uma ressaca matinal
0 c0nduzid0
por Abelardo Lins de Souza Cavalcante Santos
domingo, 5 de agosto de 2007
Foi um dia ou um momento (já nem lembro).
Ao longo deste dia eu fui penetrando nas entranhas das dúvidas em harmonia, escutando rumores e inferências; “A vida não é bela!”, “Você vive sonhando!”. A vida é colorida, e minha visão sobre as sombras (e coisas) é idílica. Venha você e me diga o contrario. Aponte-me seu horizonte. Fale-me de suas verdades que eu dito o que serve (e o que serve para outros) sobre minha percepção. De um desejo prematuro, fui buscar algo; num sei de quê! Num sei pra onde! Voltei para meu lar, o desejo transformou-se. Eu queria um retrato, o momento me fez cambalear, e entre lá e cá meu propósito foi reparar numa visão circular a mesma paisagem (e “para sempre mudar com a mesma paisagem”.), que belo (foi)! Meu coração é muito pequeno para tanto sentir, às vezes sinto num dia a necessidade de me omitir, pois para cada vislumbre quase nunca consigo evitar como uma ímã ou sucção, as energias para cada percepção que dão tom e ritmo nos passos e tropeços do moinho corriqueiro. Olho para outro que colide com minha conjuntura tão invisível ao tato, tão sensível ao sentir, percebo um pesar em não (poder) compartilhar, existem energias quem me induzem para um caminho que não pertenço, pode ser agora pode ser depois, eu sinto! Somente caibo em mim mesmo ante ao que me diz meu coração, sou alegre e triste, sou as duvidas em (e ou) algumas “razões”. No descompasso da alegria sou a tristeza que meu coração faz demanda, o mesmo na tristeza faz o ímpeto que pulsa do coração. Confundo tudo, sim! E por muitas vezes me pego somente (para não dizer o que é para além) no momento, momento para mim é pseudônimo de vida, essa que é você (os cachorros de rua) e as plantas. Ah, as plantas (sempre mais bela que eu). E no caos sou o descompasso ritmado, meu caos é pequenino, meus pensamentos são tridimensionais, e nessa de pensar saio do mundo e me enxergo ainda mais (muito mais, tão) pequenino. Sou invisível. Tanto quanto “voser” ou, (e) vou ser cada vez mais pra de tanto ser, ser nada, como cores para nascer, como o vento e os pensamentos para os que ficam e faz memória ou talvez ainda em mim em outra forma, talvez sem forma... De vez em quando sinto minhas características sérias, e calado, solto gargalhadas de mim mesmo. Como um louco, sou louco. De tanto criar e criar como seres “pensantes”, dizemos: Veja, a loucura do homem. Olha, na realidade...
Na realidade, pesemos irmãos, quem dita e concebe solidifica tanto quanto quem nada dita, quem "nada percebe". (Notório) Mas somos energias em um conjunto que se divide, que se rejeita, que se estranha para matar, que suga energia mais, sempre mais, de outros que buscam e buscam, mais, e o papel de Deus é descarregado no caos, no ardor de não sentir (e acabar vetado) do vento, da chuva e do sol, da paisagem da busca, se faz da busca algo menor para o prometido. A felicidade para as ordens (e sombras) de deus está depositada no amanhã, pois: “Sei não, Deus é quem sabe todas as coisas. Vamos ver no que dá”.Para cada rua livre há tanto mais que não podemos ver (se assim escolhermos), ai deus é para mim também. Não há cidade, não há rua, não há destino, não há ordem. Não canse de se revelar sobre si até que a morte seja mais uma delas. Sou a passagem (o momento), e você é à sombra do sol e da lua (as pessoas) nas cores. Venha com deus ou sem ele, apenas me abrace. (Para não dizer o que é para além)
josé de alcântara