segunda-feira, 29 de outubro de 2007
o que resta além da tarde
Entretanto, todo o entendimento depende de quem olha.
É no olho do observador que mora a beleza e a arte.
marcus T.
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
descanso.
canso.
precisa-se eh de
acordar com um copo de água fria
na cara
pra dar ânimo de funcionar plenamente.
parece que de tanto pensar em fazer,
já não se faz nada.
parece que de tanto pensar,
já nem se pensa mais.
já nem se faz mais.
houve uma época em que se fazia,
porém, não o pensava.
outra em que se pensava,
mas não o fazia.
agora faz-se sem pensar e pensa-se sem fazer.
só meu corpo está lá, quente, vivo, molhado.
mole, mexe.
mas eu, preocupado (em vão).
frio, frouxo.
quero mudar de casca mais uma vez.
mudar de casa, mudar de mala.
essa mutação me mata,
mas é dela que eu vivo.
marcus T.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Orgia musical
Coming Back To Life
Pink Floyd
Composição: David Gilmour
Where were you when I was burned and broken
While the days slipped by from my window watching
Where were you when I was hurt and I was helpless
Because the things you say and the things you do surround me
While you were hanging yourself on someone else's words
Dying to believe in what you heard
I was staring straight into the shining sun
Lost in thought and lost in time
While the seeds of life and the seeds of change were planted
Outside the rain fell dark and slow
While I pondered on this dangerous but irresistible pastime
I took a heavenly ride through our silence
I knew the moment had arrived
For killing the past and coming back to life
I took a heavenly ride through our silence
I knew the waiting had begun
And headed straight...into the shining sun
- Essa composição é sem dúvida, para mim, um estágio de êxtase. David Gilmour compõe ápices de emoções musicais porque ele é uma melodia extrema, no pop, no som, na voz. Para mim ele é uma melodia. No mundo sonoro será eterna. Eu escutando essa música fazendo jus a seus sentidos, em mim cada rasgada melódica nos solos, ou tom de voz agudo, tudo, ruboriza, arrepia, porque é muita coisa! É muita emoção num curto espaço de tempo, numa música. Lindo, odes musicais ultimamente como nunca; in Rainbows, the piper at the gates of dawn, "coming back to life"... energias
Nude
Don't get any big ideas
They're not going to happen
You paint yourself white
And fill in the noise
But they'll be something missing
And now that you've found it- its gone
and now that you feel it- you don't
You've gone off the rails
So don't get any big ideas,
They're not going to happen
You'll go to hell for what your dirty mind is thinking
(In Rainbows - Nude)
marcus T.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Memórias inválidas
Agora eu me tornei mais do que antes no espírito, visitei-me e encontrei um baú de destroços meus, fragmentados. Tomei o curso na direção interior da dimensão de minha busca, e antes do restante, a busca da minha sombra que me foge, -algo pra dizer do que rir de mim e eu nem sei o que é, sobre o que se trata. Eu o vejo agora sentado me olhando, eu nunca consigo entender suas feições, ele é bem mais rápido que consigo imaginar, será ele minha ilusão favorita para representar as coisas que me envergonho, ou que finjo entender para não me sentir mais real? Sei lá, a maior parte me diz que ele é alguém que me encontrou no meio do nada, quando num nada estava eu a sua procura, nesse nada habitam outros vários e todos nunca estão desocupados. “Vagar é a tarefa mais árdua” diz ele. Ele me entende somente quando eu não o percebo, ele diz que meu eu natural é uma excelente atuação sobre a vida, mas seus dizeres são sempre vacilantes validando para este lado de cá, já que lá a razão é um artefato abstrato que se manuseia mais facilmente sobre as questões, ele diz que não entende o por que de eu nunca levá-lo tão a sério se o reflexo nos seus dizeres estão na representação dos outros sobre mim, e que ele é mais uma das sementes que cai de uma certa frutífera árvore. Ele é bem esperto, quando estou com dor de cabeça é por tanto lhe falar algum tempo. Vivendo e planejando eu acabo mesmo esquecendo passos atrás. Talvez eu já tenho pensado profundamente sobre a projeção que sou hoje de um olhar ainda presente num passado não distante. Muito passou, talvez eu nem tenha pensado, aqui estou escrevendo memórias, memórias inválidas de minha pessoa já fora do prazo.
5p0ck
nada parecido
como essa imagem atemporal -salvador dalí
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
alma branca, café preto.
Me parece que as relações que mantemos com o que chamamos hábitos cotidianos podem refletir diretamente uma espessa faceta de nossa personalidade.
Se eu gosto de tomar café numa xícara grande e cheia, com muito açúcar (até ficar cerca de um dedo precipitado no fundo, mesmo depois de mexido) isso de alguma maneira significa que posso ser uma pessoa compulsiva, desmedida e exagerada em outros âmbitos de minha personalidade que não o café? Sim, pode ser (ou não, né!?)
E se, porventura, gosto de café preto e amargo, em xícara pequena ou "dois dedinhos" num copo de bar, será que sou mais sensato? Será que porquê escuto Chico Buarque sou culto? E porquê assisto filmes franceses sou Cult?
Julgamentos (ou pré-julgamentos) são sempre uma bosta.
Mas hei de perguntar a mim mesmo: se vejo uma garota ali na frente, dançando em pequenos movimentos, num trocar de passos que é fruto de um momento de "sinceridade corporal" consigo própria, junto aos seus semelhantes e chegados, será que essa imagem pode ser considerada espelho de sua personalidade, mesmo que que o observador não a conheça? Ou se observo um cara (que acabo de conhecer) brigar com sua namorada pelo telefone durante 40 minutos só porquê a garota diz que vai sair com as amigas, será que posso taxá-lo de "imbecil". Acho que posso. Pois só um imbecil quer ter uma namorada que obedece só à ele. E só uma garota com uma alma branca pode dançar daquela maneira (as de almas mais escuras dançam com mais hostilidade, ou com mais tristeza, seja na expressão corporal ou facial).
Mas, se me perguntas, "o que é alma branca?". Não respondo-te nada, não agora.
marcus T.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Postagem - Thom Yorke (In Rainbows)
hard hats on..
its a relief to us all that finally its out there.
its been a mad couple of weeks.. as i'm sure you can imagine...
"I love pop music to death..... Most great composers rely on folk music. I rely on pop music.
I'm not saying I'm a great composer or that pop music is folk music. There's a whole endless thing going on out there.
You make your little pond but if your pond isn't connected to the river, which isn't connected to an ocean,
it's just going to dry up. It's just a little piss pool. I've lived too long to be happy in a pond."
I found this in WIRE magazine over a pint in the pub last night.. its Robert Wyatt
Thom "
Fragmento de texto trazido do blog radiohead.com, com escrito de Thom sobre o lançamento do novo CD, In Rainbows.
Escuto seguidamente desde que tive acesso ao CD (quinta-feira passada) e não consigo parar de colocá-lo pra tocar no som. É viciante. Tá na sala, no quarto, no carro, na casa do amigo e na reunião do pessoal. Me impressiono com a "fluência" das músicas; o ritmo e a cadência parecem vir prontos para entrar nos ouvidos e a partir daí mexer com todo meu ser, com o que sinto, com o que penso. É ótimo pra dormir e maravilhoso pra acordar. Está por marcar esses meus dias.
Há muito que não me sentia tão bem por conta de um conjunto de 10 músicas compiladas num álbum.
Obrigado, Thom.
Marcus T.
"You make your little pond but if your pond isn't connected to the river, which isn't connected to an ocean,
it's just going to dry up. It's just a little piss pool. I've lived too long to be happy in a pond."
- Pond: poça.
- Rely: Invoco.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Espelhos sem você (outro)
Um fotógrafo de todos os momentos
. - (uma câmera na cabeça).
Um receptor de sentidos.
Um cérebro-filtro.
Um filtro que não filtra.
Uma peneira fotográfica.
Uma peça perdida no meio de uma geração.
Um humano se descobrindo por descobrir nos outros o que não tem em si mesmo.
Um humano não-humano. Um cyborg?
Um guardador de realidades,
tantas, tão diversas e difusas
que nem cabem no conceito
. de "realidade".
Um sonho, um sonho vivo.
Um sonho acordado.
Um sonho da vida e uma vida de sonho.
Um eterno hoje, um amanhã inexistente.
Um trago, um gole, um copo.
Um amigo.
Uma vida.
Definitivamente, uma não-poesia.
Antagônico.
Errado.
Esquerdo.
Um dedo,
no olho,
do espelho.
Um furo,
na consciência,
do mundo.
Um pulo,
no peito,
de mim mesmo.
Um susto,
um fragmento
de um momento
e,
de novo,
uma vida.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Espelhos sem você
5p0ck
domingo, 7 de outubro de 2007
Estou Chapado
Eu estou numa posição quando deveria estar noutra.
Eu sou um quando deveria ser outro.
Eu deveria está chorando e estou sorrido!
Minhas lágrimas são tão raras que quando choro me aflora algo que me orgulha.
Corpo este que não cabe ao espírito,#@¨#¨%$*¨(*
Estou chapado! Comendo o Melhor bolo! Comendo a melhor música . Estou chapado de ter se sentido dentro do outro após sublimes diálogos. Estou chapado do frio, do vento forte! Estou chapado digitando sem sentir os dedos. Estou chapado de pensar, de digitar, de se fuder! Pa puta que pario, caralho! Porra! Mas, Eu Estou chapado, né? Estou chapado de pensar em mim, estou chapado de viver assim, quero andar no campo sentir o mato, sentar num capim, esquecendo uns certos saberes e sentidos atribuídos, principalmente do imaginar saber o que é chapado ou qualquer coisa resto! Estou chapado com tudo, esse tudo soa mais como “um belo” começo, ainda. Eu sou precoce, projeto de prognósticos como dejetos ou arquétipos, chapados. Por toda vida fumados!
...é o caralho mermao!
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
We Suck Young Blood
are you hungry?
are you sick?
are you begging for a break?
are you sweet?
are you fresh?
are you strung up by the wrists?
we want the young blood
are you fracturing?
are you torn at the seams?
would you do anything?
flea-bitten? motheaten?
we suck young blood
we suck young blood
won't let the creeping ivy
won't let the nervous bury me
our veins are thin
our rivers poisoned
we want the sweet meats
we want the young blood
(Texto: "We Suck Young Blood", Thom Yorke - Hail To The Thief - Radiohead)
(Imagem: José Mikosz - Ilusão da Infância)
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
O relógio não cabe no poema
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço
do arroz
não cabe no poema.
Nao cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em seus arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras.
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede nem cheira.
Ferreira Gullar