"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

domingo, 8 de julho de 2007

João Cabral de Melo Neto


Poema de João Cabral de Melo Neto do livro Agrestes, 1981-1985

O Último Poema

Não sei quem me manda a poesia

nem se Quem disso a chamaria.

Mas quem quer que seja, quem for

esse Quem (eu mesmo, meu suor?),

seja mulher, paisagem ou o não

de que há preencher os vãos,

fazer, por exemplo, a muleta

que faz andar minha alma esquerda,

ao Quem que se dá à inglória pena

peço: que meu último poema

mande-o ainda em poema perverso,

de antilira, feito em antiverso.

2 comentários:

Rodrigo de Morais disse...

Sr João Cabral de Melo Neto, na minha imaginação, sendo esse quem provavelmente sairia um como contra-mão. Tenha certeza! descanse em paz. Fique de boa. Relaxe e desfrute.

Bela foto, emituza! (abraços)

Anônimo disse...

uma câmera fotográfica moderna captura uma imagem que de moderno nada tem.
são pedro foi o motivo da fogueira,
mas o que eu comemorava era o fogo.
embora o verdadeiro motivo, o fogo e o vinho.
quem me esquentava, o vinho e o fogo.
uma taça de vinho numa mão,
a câmera fotográfica noutra.
minha mãe dum lado, miúda doutro.
colorido de um lado, preto e branco do outro.
um e outro, dum e doutro.
o retrato duma fogueira moderna, que de moderna nada tem.