"Enquanto não conseguirmos suprimir qualquer uma das causas do desespero humano, não teremos o direito de tentar a supressão dos meios pelos quais o homem tenta se livrar do desespero."
Antonin Artaud

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O relógio não cabe no poema

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema.

O preço
do arroz
não cabe no poema.
Nao cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em seus arquivos.

Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras.

- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede nem cheira.

Ferreira Gullar

2 comentários:

Anônimo disse...

"Pour un rêve". Falava você sobre um sonho (por sinal, belíssimo, a partir do momento em que cruzas o oceano a caminho de um cenário riquíssimo de referências e metáforas), e esse teu escrito sobre o sonho me levou quase até dentro dele. Tua descrição da flecha de palha, da abertura do oceano, da franja vegetal sobre a costa marinha, do "andar com cordas" camuflando e possibilitando a sobrevivência na mata, do povo que lá habitava; me vi em meio a esse cenário por um momento.
Repleto de cores e luzes, mesmo embora o fato dessas luzes oníricas serem de certa maneira "luzes opacas".
É ótimo fazer essa "ode" ao sonho à qual estamos nos habituando a fazer . Esclarece bastante os significados intrínsecos de casa sonho recordado. Me facilita até mesmo na hora do sonhar propriamente dito, além de me fazer relembrar de muita coisa só pra te relatar.
Enfim, sonhar também é viver.

Rodrigo de Morais disse...

Pois é, margu.
Esse habito é muito interessante. Tem coisas que só consigo me sentir a vontade falando contigo, como tem coisas que me refrescam esclarecer ante a presença de outros. Mas estes aspectos eu direciono bem a você, que é grande reflexo de uma certa semelhança sem relação nos traços genéticos ou familar, o que não deixa nem de longe de ser relevante os nossos traços quanto as aspirações, sobre coisas do coração e tudo mais, isso tudo é pra contar outro sonho.

Meu irmão, esse foi daqueles, era eu e cabeça, presos num morro por um traficante da pesada, num determinado momento do sonho eu me vi subindo uma rua (totalmente gravataense) instigando cabeça a fugir comigo, chegávamos a um ponto de moto-taxi, e eu me sentia por muito aliviado. Antes de saber que todos aqueles trabalhadores estavam sobre olhares e vigilancia do chef daquela comundade, o sonho, marcus, foi uma mistura de desespero muito forte e MUITO boa de sentir, eu lembro da agonia. Lembro bem que tudo era um pouco embaçado, "opaco". Certo momento eu decidi ficar a só pra não ter que pensar por outro ( e isso puxa nossa última ligação amigo, sobre a conversação de assumir uma responsa por outrem! lembra?) pronto de repente eu projetava cabeça pra outro lado (feito o clip californication, e ele ia correndo) e me vi nos arredores de uma manção encalhado numas espécies de galhos secos muito entrelaçados e muito alto. eu tinha acabado de conseguir sair da casa que era arrudiada por um lago enooooorme, amigo, belo (que já não pude reparar bem ante a situação caótica.Segundo sonho com lago, eles são semelhantes aquele de gravatá, lembra?). no entanto era a casa, pouco centímetros já era água, eu tinha receio de cair na água sem saber onde poderia chegar. Eu me enrroscava naqueles galhos secos de maneira prazerosa (eu acho que mexia meu corpo na cama sentindo o barato). O mais interessante que a certa altura, o malandro me achava ao redor da casa e ele portava uma B-3-2 daquelas de CS que é preta curta e tem um traço vermelho e um pente de 30 balas. Nessa hora eu perdia, e pensei -Fudeu, cara. vou morrer! Não, assim não tem graça. Eu tenho é que projetar outra cena com mais adrenalina. Dai eu voltava, cara, toda a cena, e me via de novo na árvore, dessa vez enquanto eu arrudiava a casa escutava ele chegando e gritando com a esposa perguntando: CadÊ o playboy sua vadia? cadÊ o muleque? O cara, era mano brown maluco, com aquela cara bruta assim ;(

dai que projetei um vizinho e sai escalando as casas e já me via com outros capangas na cola, o interessante era que o rio tinha um primeiro andar e tinha lá uns negros galegos -tomando banho ou voando? Não importam eles me viam e eu corria e pulando casas, com azulejo azul de colégios. ai o sonho foi perdendo vigor. Muito bom